Parte II

 

Segunda seção

 

N° 1

 

 

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Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs

a Plinio Corrêa de Oliveira
 

EDIÇÕES BRASIL DE AMANHÃ
Rua Javaés 681 – São Paulo
Impressão e acabamento
Artpress – Papéis e Artes Gráficas Ltda.
Rua Javaés 681 – São Paulo
s/d (1989)

Parte II

Quando TFPs somam seus esforços

Segunda seção

TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional

1. A Paulo VI, dois milhões de sul-americanos pedem medidas contra a infiltração comunista na Igreja 

 

Em setembro de 1968, a TFP comemora, na Casa de Portugal em São Paulo, o término de sua campanha, em que 1.600.000 brasileiros pediam providências a Paulo VI contra a infiltração comunista na Igreja. Foi o maior abaixo-assinado da História do Brasil

Pelos idos de 60, uma hábil e vasta propaganda levada a efeito através da imprensa, do rádio e da televisão – e até do púlpito de certas igrejas – procurava apresentar as massas latino-americanas marchando irreversivelmente em busca de reformas de estrutura cada vez mais socializantes e radicais. De seu lado, uma minoria de eclesiásticos e leigos justificava sua própria atuação esquerdizante como decorrência do não atendimento do clamor de justiça que se estaria erguendo em todos os quadrantes do continente.

Os progressistas procuravam ainda dar a entender que a própria Igreja estava engajada no processo de derrubada das estruturas atuais e na substituição destas por um regime profundamente igualitário. Não se apresentavam eles como uma facção aninhada dentro da Igreja, mas pretendiam falar em nome dEla, como se a Esposa de Cristo fosse a vanguardeira do movimento revolucionário.

Esta era a situação quando um fato novo vem mudar a face dos acontecimentos.

 

 

Aspectos da propaganda no Rio de Janeiro

ATÉ HOJE não se sabe como foi ter às mãos da grande imprensa brasileira aquele documento-bomba, nascido da pena do padre belga Joseph Comblin. Não destinado à publicidade, como se alegou na época, o fato é que transpirou. E uma vez conhecido, estarreceu a opinião pública.

Professor no Instituto Teológico (Seminário) da Arquidiocese de Recife, o Pe. Comblin é claro em seu escrito. Preconiza, como meios válidos para fazer cair as estruturas sociais vigentes, a revolução na Igreja, a subversão no País, a derrubada do Governo, a dissolução das Forças Armadas, a instituição de uma ditadura socialista férrea, esteada em tribunais de exceção, e aparelhada para reduzir ao silêncio – pelo terror – os descontentes.

Na verdade, o público se dava conta, embora de modo difuso, de que o perigo comunista crescia graças à agitação contínua de uma minoria de eclesiásticos e de leigos que se proclamavam católicos. Era, porém, um dar-se conta vago, inexplícito, que continha, sim, uma recusa, mas ainda não expressa. E que, por isso, proporcionava ao "esquerdismo católico" o ensejo de gloriar-se, sem ser contraditado, de ter de seu lado a imensa maioria católica do continente.

O Documento Comblin conferia nova precisão ao panorama anterior, por apresentar com clareza absoluta, num quadro único e numa só apologia, as tendências, opiniões e propósitos subversivos que afloravam esparsamente aqui e acolá em ambientes comuno-"católicos".

E dá ensejo a que, a partir de 17 de julho de 1968, a TFP brasileira desencadeie, por todo o País, uma campanha de coleta de assinaturas para uma Mensagem a Paulo VI, pedindo respeitosamente medidas eficazes contra a infiltração esquerdista nos meios católicos (1).

São dias memoráveis os dessa campanha, nos quais chovem as assinaturas do público. E o Brasil católico, ao mesmo tempo que demonstra sua fidelidade à Igreja, pede ao Supremo Pastor que afaste o lobo que quer devorar as ovelhas.

A iniciativa impressiona também as autoridades eclesiásticas, civis e militares. A mensagem é assinada por quinze Arcebispos e Bispos (2), cinco Ministros de Estado, dois Governadores estaduais, quatro Marechais (3), cinco Almirantes, oito Generais, dois Senadores, dois Vice-Governadores, doze Secretários estaduais, bem como numerosos magistrados, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores.

Ao mesmo tempo, numerosas personalidades pronunciam-se favoravelmente à campanha, demonstrando sobejamente que o silêncio que até então se mantinha nesta matéria ocultava uma profunda preocupação face ao perigo que representa a infiltração esquerdista no Clero. Silêncio este que em tão crítica conjuntura só se explica pela reverente adesão do povo à Igreja Católica Apostólica Romana.

No final da campanha (12 de setembro de 1968), feito o cômputo das assinaturas, verifica-se que, em 58 dias, 1.600.368 brasileiros de 229 cidades de 21 Unidades da Federação haviam assinado as listas apresentadas pela TFP.

A conhecida revista norte-americana "Time", mortificada, incumbe-se de concluir: "A facilidade com que a TFP coletou as assinaturas reflete o fato de que a maioria dos latino-americanos aprova ou pelo menos tolera [sic] o conservadorismo católico" (4).

Sim, os latino-americanos. Pois, ao mesmo tempo as TFPs coirmãs da Argentina, do Chile e do Uruguai promoveram abaixo-assinados semelhantes ao da TFP brasileira. 

 

Cooperadores da TFP brasileira em campanha. A Esquerda não assistiu impassível à maré montante do abaixo-assinado. Registraram-se nada menos que 829 ocorrências, entre agressões, insultos e ameaças. Desses atos de hostilidade, 396 foram praticados ou açulados por Eclesiásticos ou Religiosas

 

Na Argentina, ao término de dois meses de campanha, são coletadas 266.512 assinaturas para análoga mensagem a Paulo VI, tendo sido percorridos o centro e os bairros de Buenos Aires, bem como mais de 40 cidades das diversas regiões do país, tais como Mar del Plata, Mendoza, Tucumán, Salta, Córdoba, Corrientes e Paraná.

Dão sua assinatura de apoio à Reverente e Filial Mensagem três eminentes Prelados, os Exmos. Monsenhores Adolfo Tortolo, Arcebispo de Paraná, Francisco Vicentín, Arcebispo de Corrientes, e Mons. Alfonso Buteler, Arcebispo de Mendoza.

Dentre as diversas personalidades oficiais que aderem ao abaixo-assinado está o Ministro do Interior, Guillermo Borda.

A campanha não transcorre sem incidentes. Pelo contrário. A TFP argentina tem que enfrentar sérios obstáculos para chegar até o público.

Não faltam os ataques originados de certos setores eclesiásticos que se servem, não raro, do púlpito de suas igrejas, para lançar uma ofensiva contra a mensagem ao Papa e a entidade que leva a efeito a campanha. A nota dominante desses ataques é sua absoluta falta de argumentação, quer no que diz respeito à Doutrina, quer no que toca aos fatos.

A cólera progressista não fica, porém, só no âmbito dos pronunciamentos verbais ou escritos, mas desce até à agressão física em Tucumán, Avellaneda, Luján, Córdoba, Salta, La Rioja, Gualeguaychú e também em Buenos Aires. 

 

Também na Argentina, Chile e Uruguai as respectivas TFPs saem em campanha. As assinaturas que coletam, somadas às do abaixo assinado brasileiro, somam 2 milhões.

O dia 21 de julho de 1968 pode ser considerado como o início da campanha no Chile. Nessa data é publicado em "El Diario Ilustrado", de Santiago, a Reverente e Filial Mensagem a Sua Santidade o Papa Paulo VI. No dia seguinte, ao mesmo tempo em que o documento é igualmente estampado no diário "El Mercurio", os militantes de Tradição, Família e Propriedade saem às ruas de Santiago com o estandarte do leão dourado sobre fundo vermelho, iniciando a coleta de assinaturas em apoio à mensagem.

A campanha da TFP chilena repercute profundamente em todos os setores da opinião nacional, e a imprensa que, com raras exceções, demonstrara sempre má vontade para com a jovem e brilhante entidade, não pode deixar de publicar muitas notícias sobre o abaixo-assinado. Seria demasiado longo referir aqui tudo o que apareceu nos jornais chilenos e de outros países latino-americanos a respeito da iniciativa da TFP andina.

Em sessenta dias de campanha vitoriosa, apesar de continuamente tumultuada por agressões da "esquerda católica", subscrevem o abaixo-assinado de apoio à Reverente e Filial Mensagem 121.210 chilenos, entre os quais diversas personalidades da vida pública, como os Senadores Enrique Curti, Armando Jaramillo e Francisco Bulnes, do Partido Nacional, e Julio Durán, do Partido Radical. Dão também sua adesão deputados de várias agremiações, bem como autoridades municipais, professores universitários, militares e pessoas de todas as classes sociais, além de numerosos Sacerdotes e Religiosas.

* * *

Quando os jovens membros do Núcleo Uruguaio de Defesa da Tradição, Família e Propriedade saíram às ruas de Montevidéu para a coleta de assinaturas de apoio à Reverente e Filial Mensagem, houve quem exclamasse: "Não posso crer!... ainda há católicos autênticos!"

O espanto expresso por essa exclamação – que tem, evidentemente, muito de hipérbole – não é de se estranhar num país onde o laicismo dominou durante muitos anos a legislação e o ensino.

Assim é que, apesar de pouco numeroso ainda e pobre de meios materiais, o valoroso Núcleo Uruguaio de Tradição, Família e Propriedade causa com sua iniciativa um enorme impacto no país.

Sem embargo desses fatores adversos, e do pouco tempo que foi possível dedicar à campanha, o total de firmas chega no Uruguai – praticamente só em Montevidéu – à expressiva cifra de 37.111.

Também os militantes de Tradição, Família e Propriedade do Uruguai são objeto de diversas agressões, algumas das quais instigadas por eclesiásticos, que não se contentam em combater a campanha em seus sermões e em programas de televisão. Das agressões participam invariavelmente pedecistas, ao lado de comunistas notórios. Em geral, o público presente a algum ato de hostilidade tomava a defesa dos cooperadores.

Entre as personalidades que subscrevem a mensagem, cabe destacar o representante uruguaio junto à Sante Sé, Embaixador Alejandro Gallinal, Walter Pinto Rossi, Ministro de Obras Públicas, e Alfredo de Ambrosis, Presidente da Câmara das Indústrias.

* * *

Depois de meticulosa recontagem, o impressionante total de 2.025.201 assinaturas colhidas nas quatro nações pôde ser entregue, em microfilmes, ao Vaticano, no dia 7 de novembro de 1969. A entrega, mediante protocolo, é efetuada por um enviado especial das diversas TFPs (5).

Uma palavra final, melancólica, restaria dizer sobre a acolhida dada então pelo Vaticano a essas mensagens. O silêncio mais frio e completo seguiu-se à súplica entretanto filial, respeitosa, submissa, angustiada, ardente, de dois milhões de fiéis católicos da América luso-espanhola... 

 

Apoio do Arcebispo Mons. Cifuentes 

Repercutiu amplamente no Chile a carta dirigida ao Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade pelo Exmo. Revmo. Mons. Alfredo Cifuentes Gómez, antigo Arcebispo de La Serena e um dos mais destacados e respeitados membros do Episcopado do país.

Assim se exprimiu Mons. Cifuentes:

"Li com especial interesse a reverente e filial mensagem que, em nome da Sociedade que representam, os srs. dirigem a Sua Santidade o Papa Paulo VI. .... Tal mensagem reflete dois caracteres que sempre animaram o espírito cristão e o verdadeiro amor à pátria. Espírito cristão, porque justamente vêem ameaçados os princípios ligados intimamente à doutrina da Igreja: e amor à pátria porque precisamente o ataque a esses princípios vulnera em suas bases o bem-estar e a paz da nação. Como filhos fiéis, os srs. recorrem à suprema Autoridade da Igreja com sentimentos de profundo respeito e confiança.

"Amigo dos srs. desde há bastante tempo, não posso deixar de congratular-me ao vê-los com esta atitude, fiéis aos mais nobres e cristãos ideais".

Publicada nos principais diários de Santiago no dia 30 de julho de 1968, a missiva teve larga repercussão em todos os ambientes católicos do Chile, constituindo um precioso apoio para a campanha do abaixo-assinado.

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Notas:

(1) No Brasil, a mensagem a Paulo VI foi publicada na íntegra em "Catolicismo", nº 212/214, agosto/outubro de 1968; "Folha de S. Paulo", 18-7-68; "Correio do Povo", Porto Alegre, 18-7-68; "Diário da Noite", São Paulo, 18-7-68; "Estado de Minas", Belo Horizonte, 18-7-68; "Gazeta do Povo", Curitiba, 18-7-68; "Diário Popular", Curitiba, 18-7-68; "Diário Popular", São Paulo, 18-7-68; "O Povo", Fortaleza, 18-7-68; "O Estado", Florianópolis, 18-7-68; "Diário de S. Paulo", 18-7-68; "Tribuna de São José", São José dos Pinhais (PR), 20-7-68; "A Voz do Povo", Bom Jesus do Itabapoana (RJ), 20-7-68; "Diário dos Campos", Ponta Grossa (PR), 21-7-68; "Gazeta de Goiaz", Goiânia, 23 a 29-7-68; "Diário de Sorocaba" (SP), 1º-8-68; "Tribuna da Serra", São Bento do Sul (SC), 17-8-68. – Resumos foram publicados em "O Globo", Rio de Janeiro, 18-7-68; "Diário do Paraná", Curitiba, 18-7-68; "Jornal de Curitiba", 18-7-68.

(2) D. Antonio de Almeida Moraes Jr., Arcebispo de Niterói; D. Antonio Ferreira de Macedo, Arcebispo Coadjutor de Aparecida; D. Geraldo de Proença Sigaud, Arcebispo de Diamantina; D. Orlando Chaves, Arcebispo de Cuiabá; D. Antonio Mazzarotto, Bispo titular de Ottabia; D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos; D. Francisco Prado, Bispo de Uruassu; D. Jackson Berenguer Prado, Bispo de Feira de Santana; D. Jerônimo Mazzarotto, Bispo Auxiliar de Curitiba; D. José Martenetz, Bispo Exarca Apostólico para os ucranianos no Brasil; D. José Maurício da Rocha, Bispo de Bragança Paulista; D. Rodolfo das Mercês de Oliveira Penna, Bispo titular de Apolonide; D. Vitor Tielbeek, Bispo-Prelado de Formosa; Mons. Biagio Musto, Bispo de Aquino (Itália), Mons. Constantino Trappani, Bispo de Nicosia (Itália).

(3) Coronel Mário Andreazza, Ministro dos Transportes; Sr. Leonel Miranda, Ministro da Saúde; Almirante Augusto Rademacker, Ministro da Marinha; General Edmundo Macedo Soares e Silva, Ministro do Comércio e Indústria; Coronel Costa Cavalcanti, Ministro das Minas e Energia; Sr. Luiz Viana Filho, Governador da Bahia; Sr. Otávio Lage, Governador de Goiás; Marechal Juarez Távora; Marechal Augusto Magessi; Marechal-do-Ar Eduardo Gomes; Marechal-do-Ar José de Souza Pinto.

(4) "Time", 23-8-68.

(5) Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, SOS de milhões – Mala pequena – Tudo normal, "Folha de S. Paulo", 30-11-69. Cfr. também "Catolicismo", nº 229, janeiro de 1970.


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