Plinio Corrêa de Oliveira

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

 

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20 de junho de 1981 

Medíocres, mediocratas etc.

Foi ao centro e à direita da França que dirigi as perguntas, ou melhor, as objurgatórias interrogativas de meu último artigo escrito – é bom notar – antes do primeiro turno das eleições para o Legislativo.

Porém, não tive em mente, de modo indiscriminado, todos os integrantes dessas correntes. Os centristas e direitistas responsáveis pela catástrofe Mitterrand constituem uma grande família de almas que, num contexto doutrinário vagamente "não-comunista" (mas que esquiva o qualificativo de anticomunista), aglutina quase exclusivamente os medíocres. Minhas objurgatórias dirigiam-se, pois, especificamente aos medíocres do centro e de direita, inclusive os que, não tendo embora votado em Mitterrand, foram fracos, moles, displicentes na pugna pré-eleitoral.

*    *    *

Distingo aqui entre medíocres e medianos. Tem-se o direito de ser mediano, tanto quanto o de ter nascido com um estofo pessoal vigoroso, ou apenas suficiente.

A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento no imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências. Não olham para trás: falta-lhes o senso histórico. Nem olham para frente, ou para cima: não analisam nem prevêem. Têm preguiça de abstrair, de alinhar silogismos, de tirar conclusões, de arquitetar conjecturas. Sua vida mental se cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além seu pequeno paraíso.

Paraíso precário, que procuram proteger com toda espécie de seguros: de vida, de saúde, contra o fogo, contra acidentes, etc., etc.

E tanto mais feliz o medíocre se sente, quanto mais nota que todas as portas que podem se abrir para a aventura, para o risco, para o esplendoroso – e portanto, também, para os céus da Fé, para os largos horizontes da abstração, os imensos vôos da lógica e da arte, para a grandeza de alma, para o heroísmo – estão solidamente cerradas. Por meio do sufrágio universal, os medíocres fizeram tantas leis, tantos regulamentos, instituíram tantas repartições públicas, que nenhuma fuga das almas superiores, para fora dos cubículos dessa mediocridade organizada, é possível. Sem terem a intenção de o fazer, os medíocres impõem, entretanto, às almas de largos horizontes, a ditadura da mediocridade.

Como todas as ditaduras, também esta só se prolonga quando chega a monopolizar os meios de comunicação social. Cada vez mais as mediocracias vão penetrando nos jornais, no magazine, no rádio e na televisão.

E se fosse só isso! O ecumenismo, com a infatigável e vã tagarelagem de seu diálogo, é bem a religião dos mediocratas. Uma espécie de seguro, ou de resseguro, para a vida e para a morte, mediante a qual todas as religiões são solicitadas a dizer em coro que indiferentemente, com qualquer delas, os homens podem alcançar para sua saúde, seus negócinhos e sua segurança, e mesmo depois da morte um bom convívio com Deus.

Nesta perspectiva, parece que a Deus é indiferente que se siga qualquer religião. Pode-se até blasfemar contra Ele e perseguí-Lo. Pode-se até negá-Lo. Ele é indiferente a todos os atos dos homens. Olimpicamente indiferente. Ecumenicamente indiferente. Como aliás os medíocres, por sua vez, tenham eles ou não algum Crucifixo, algum Buda de louça ou de cerâmica, ou algum amuleto, nos locais em que dormem ou em que trabalham, são olimpicamente indiferentes a Deus.

Na atmosfera relativista dos paraísos cubiculares mediocráticos, Deus é – segundo o brocardo italiano – um ente "con il quale o senza il quale, il mondo va tale quale".

Nesta perspectiva também, Deus pagaria aos homens na mesma moeda. Poder-se-ia então dizer que a humanidade é, para Ele, o formigueiro (ou nó de víboras?) "con il quale o senza il quale, Iddio (o Senhor Deus) va tale quale".

*    *    *

Tão frequentes nas direitas e nos centros, não só da França como do mundo inteiro, a mediocracia e o indiferentismo religioso são corolários um do outro. Como, por sua vez, esse indiferentismo não é senão uma forma de ateísmo. O ateísmo dos que, mais radicais (em certo sentido) do que os próprios ateus convencionais, não tomam Deus a sério. Ao passo que o ateu, se tivesse a evidência de que Deus existe, O odiaria... ou, talvez, O serviria... Mas, em todo caso, O tomaria a sério.

A esse ateísmo ecumênico e relativista corresponde uma específica modalidade de deterioração moral.

A sensualidade, atéia por essência, andava outrora de braços dados com os mais exasperados desatinos do luxo, com os escândalos da prostituição, com os dramas do crime. Ela era vistosa, teatral, rocambolesca. Correspondia ela ao ateísmo ululante e desbragado das massas revolucionárias de fins do século XVIII e do século XIX, que vibravam entoando a "Marselhesa", o "Ça Ira", ou a "Internacional".

Mas esses cânticos estão fora de moda. Talvez os adotasse como símbolo de seu governo algum plutocrata que a Propaganda levasse à direção do Estado, e que para fazer demagogia escolhesse algum desses cânticos como seu prefixo musical.

Aberrações destas figuram na ordem do dia.

Mitterrand, por exemplo, acaba de adotar a música própria de seu governo. Ele não é um burguês carunchado mas um marxista "no vento". Por isso adotou a marcha composta por Lully para os dragões do regimento do Marechal-Duque de Noailles.

Vitória da tradição? Ninguém se iluda. Ostensiva afirmação do indiferentismo reinante. Todos os ilogismos, todas as contradições que outrora teriam "urrado por se encontrarem juntas", passeiam de braços sob o signo da mediocridade e da indiferença.

Ora, foi especialmente o governo de Giscard o paraíso de todas estas formas de mediocracia apoiada em uma fração do eleitorado que não queria outra coisa.

Chegou, com o período pré-eleitoral, a pugna. Os medíocres se defenderam à maneira deles. Mediocremente. Sem convicção, nem coerência, nem entusiasmo, nem impacto. O que podia acontecer-lhes senão perder?

A lição aproveitará pelo menos os medíocres de outros países? Temo que não. Pois se há coisa que o medíocre não faz é aproveitar a lição do vizinho. Por definição, ele só vê perto. E só enxerga o dia de hoje, como eu acima disse.


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