Plinio Corrêa de Oliveira

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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5 de outubro de 1981

A guerra do hissope

Prepare-se a lavoura. Prepare-se o Brasil. Aí vem chumbo grosso... alguns fazendeiros talvez reajam a este aviso com ceticismo. Como, chumbo? Para os terroristas, as vítimas "produtivas" não são os agricultores, mas banqueiros e políticos.

Respondo-lhes: não são ataques armados que vos prevejo. Porém, algo mais terrível. Que não destruirá vossas pessoas. Mas fará simplesmente com que vossos bens passem a terceiros, em cujas mãos baixarão vertiginosamente de produção. Quanto a vós, descambareis para as charnecas da penúria. Ouvistes falar da bomba de nêutron, a superbomba que destrói os homens e lhes poupa os bens, para uso do vencedor? Trata-se aqui de uma espécie de bomba de nêutron. Estranhos tomarão para si vossos bens. Não sereis atingidos pelo alfanje clássico da morte, mas pela vassoura de aço do confisco.

Que arma fará isto? Os homens ajoelham diante dela e ainda inclinam a cabeça, quando é acionada. Chama-se hissope. E o que descarrega esta arma? Sua "carga" é límpida e venerável. Nela, como que entranhado, está um dom inestimável da Igreja: a bênção de Deus. O hissope é o instrumento com o qual, no início de certas cerimônias religiosas, o sacerdote percorre o templo aspergindo com água benta os fiéis. Benta, sim, segundo o cerimonial da Igreja. Desconfio que mera água de torneira, quando o sacerdote é um ou outro padre progressista "ardito".

Menciono o hissope como mero símbolo. A verdadeira bomba de nêutron é a ação de certos bispos e sacerdotes, os quais ultimamente se têm servido de seu ministério sagrado praticamente tão-só para pregar a revolução social, por meio da reforma agrária socialista e confiscatória.

Os comunistas não constituem senão grupinhos, nos quais se aglutinam intelectuais (vários deles intelectualóides), ricaços (vários dos quais nababos) e políticos bafejados pela publicidade... mas todos eles destituídos de bases autênticas. No campo da estratégia política, zeros. Se só eles estivessem a clamar pela reforma agrária, esta não constituiria o menor risco.

O algarismo a cuja direita se estruturam todos esses zeros – assim transformados em milhões – é o clero progressista. É esse clero que é a grande ameaça do instituto da propriedade privada no Brasil.

* * *

Tal ameaça era velada nos primeiros anos da década de sessenta. Denunciou-a o livro "Reforma Agrária – Questão de Consciência", do qual fui autor com o economista Mendonça de Freitas e os bispos d. Antônio de Castro Mayer e D. Geraldo Sigaud. Este, aliás, se fez mais tarde propugnador da reforma agrária.

Depois de 64, o Brasil entrou em paz. E a grande maioria dos fazendeiros em modorra.

Mas das cinzas do agro-reformismo, misturadas à grossa poeira da negligência, surgiu nos últimos anos uma ofensiva ainda maior. Pois desde 64 as fileiras do episcopado nacional não cessaram de ser engrossadas por novos bispos, na sua grande maioria simpáticos ao agro-reformismo.

Em 1980, a CNBB publicou o documento "Igreja e problemas da terra" (IPT), que bafeja a divisão compulsória das grandes e médias propriedades. Cento e setenta e dois bispos aprovaram o documento.

Escrevi então o livro "Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?", que inclui esmerado estudo técnico do inteligente e culto economista Carlos del Campo. Vinte mil exemplares em seis meses. Excelente acolhida, portanto. Esta não impediu, porém, que quando, logo depois, começaram as ocupações de terras, ora inspiradas, ora até promovidas pela "esquerda católica", parte da classe dos fazendeiros permanecesse entre indolente e desconcertada. Logo essa classe, muito mais forte no Brasil do que a corrente de clérigos progressistas, que as extravagâncias litúrgicas (para dizer pouco), o permissivismo na orientação moral dos fiéis e o esquerdismo farfalhante vêm desprestigiando no Brasil.

Ante essa inércia de tantos fazendeiros (entre os quais alguns idealistas valorosos, mas nem sempre seguidos, vão conseguindo êxitos menores do que mereciam), os clérigos de esquerda, de hissope em punho, acabam de dar mais um passo. Em Goiânia, a Comissão Pastoral da Terra (incumbida de dirigir a política rural da entidade em todo o Brasil) elegeu, para a sua direção, uma chapa-desafio: presidente, d. Moacyr Grechi, agro-reformista decidido; vice-presidente (braço direito do presidente, nas organizações do gênero), d. Pedro Casaldáliga, o bispo dos sonhos comunistas, incentivador de todas as partilhas, de todas as ocupações. O perigo do homem está todo no seu hissope e não nas flores literárias de suas poesias sem beleza.

* * *

Essa provocação da CNBB se dá em toda uma atmosfera eclesiástica carregada. D. Helder, o Casaldáliga de ontem, festejou há pouco seu jubileu sacerdotal. E recebeu de João Paulo 2º a carta de que transcrevo os seguintes trechos:

"Todos sabem e reconhecem como a benignidade de Deus te cumulou de dotes, de talento e piedade. Ornado com estes dotes, desde tua promissora juventude até hoje, tens conseguido cumprir numerosas missões de inestimável valor...

"Deus e os irmãos têm sido para tua pessoa dois polos de um só arco, que emite a luminosa centelha do amor. A Deus criador de todas as coisas... sempre te empenhaste em oferecer tudo que é teu: o zelo, os esforços e meditações, a vida inteira desde o início da ordenação presbiteral até as mais recentes realizações".

Justamente agora d. Helder procura dar novo viço aos seus charmes demagógicos, fanados por longo silêncio. E se exibe livremente na televisão.

Festejou o mesmo jubileu, em 1977, o bispo d. Antônio de Castro Mayer, famoso por suas posições antiprogressistas e anticomunistas. Sobre ele, o mutismo do Vaticano só foi interrompido há pouco, quando, com surpresa para os amigos dele, era publicada a notícia de que João Paulo II lhe concedera a demissão da Diocese de Campos.

* * *

Sei que bons amigos ronronam por vezes: "Contra as ocupações não bastam os avisos e livros da TFP". Tenho vontade de sorrir... com dor. O que querem? Que os carreguemos nas costas? Os anti-reformistas dos campos e das cidades tardam tanto em se articular em uma vasta frente única. Como então podemos ser eficazes em reivindicar para eles os direitos que eles não reivindicam?

Oh, amigos! O que ganhais em resmungar contra quem vos defende, e não agir contra quem vos ataca?

Alertai-vos, pois a guerra do hissope vai alta...


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