Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

  Bookmark and Share

28 de abril de 1974 

Voz dos que se calam acabrunhados 

Era minha intenção mudar de tema no artigo de hoje. A resistência católica anticomunista, pratico-a com a consciência serena e o ânimo decidido... porém com o coração imensamente pesado! E por isto não lhe quero dar senão as proporções estritamente indispensáveis.

Contudo, sou forçado a voltar ao assunto. Pois reputo altamente poluidora a recente declaração da Conferência Episcopal Chilena (CEC), divulgada pelo Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago. Tal poluição se estende por todos os países em que vai sendo publicado. Atingiu, pois, o Brasil. Cumpre-me resistir à poluição. Faço-o aqui, pondo os pingos nos is.

* * *

Obviamente, só posso aprovar que a Hierarquia chilena se oponha aos abusos que — afirma-o ela em sua declaração — estão ocorrendo: prisões arbitrárias, interrogatórios acompanhados de torturas físicas e morais, limitação dos direitos de defesa, e desigualdade nas condenações. Choca-me porém que, quando da visita de Fidel Castro a Allende, o purpurado chileno não se tenha pejado de dar mostras de evidente simpatia ao tiranete quando é sabido que, em matéria de direitos humanos, este foi muito além de todo e qualquer excesso praticado eventualmente por autoridades policiais do atual governo chileno.

E a pergunta inevitável salta de dentro da realidade dos fatos: por que dois pesos e duas medidas? Por que tão desempenada severidade com um governo anticomunista, e tão vistas grossas em relação ao tirano comunista?

Os amigos de Mons. Silva Henriquez procuraram justificar a estranha conduta dele em relação a Fidel Castro alegando que não era por meio da severidade, mas da doçura, que a Igreja poderia chegar a resultados práticos na Cuba comunista. No Chile anticomunista, o método adotado pela CEC é diretamente oposto.

Isto torna patente que Mons. Silva Henriquez e a CEC praticam a política que se exprime no detestável lema "não ter inimigos à esquerda"; o que equivale a dizer que os de direita devem ser tratados sempre como inimigos. E leva à conclusão de que o Purpurado chileno e aqueles dentre os Bispos, que o seguem, funcionam como linha auxiliar do partido comunista.

* * *

Passemos de leve sobre o fato de que Allende e seus asseclas praticaram, indiscutivelmente, as violências que Mons. Silva Henriquez e a CEC imputam ao atual governo chileno, sem que por isto o presidente marxista tenha sido alvejado por declaração tão estrepitosa quanto esta, da qual hoje tratamos.

Saliento que, em matéria de direitos humanos, não existem só os das vítimas da polícia. Pela negação de direitos humanos fundamentais, como são a propriedade privada e a livre iniciativa, Allende torturou moral e materialmente, levando-o à tirania e à miséria, um povo inteiro de dez milhões de habitantes. Contra isto, nada de ponderável e útil disseram os Srs. Bispos chilenos. Quanto a Mons. Silva Henriquez, apoiou Allende até o fim, e continua apoiando os seus partidários, como a TFP mostrou em sua recente declaração.

Pergunto agora: por que tanto desvelo para as vítimas, reais ou não, da polícia anticomunista quando da parte de S. Em.a e de Sas. Exas. os Srs. Bispos chilenos, houve uma tão rotunda e solene indiferença ante a violação dos direitos humanos de um povo inteiro?

Dir-se-ia que violações de direitos, só lhes doem quando as vítimas são comunistas ou suspeitas de comunismo.

E isto faz lembrar Mons. Casaroli, secretário do Conselho para os Assuntos Públicos da Santa Sé, o qual asseverou que os católicos cubanos são perfeitamente felizes.

Tudo isto é triste. Deixei porém o mais triste para o fim. Entregando à imprensa essa lamentável declaração, o Cardeal chileno informou ter recebido do Vaticano um longo telegrama exortando o Episcopado a trabalhar pela reconciliação entre os chilenos. O que importa em afirmar que essa infeliz atitude da CEC é efeito das instruções da Santa Sé. Se assim é, sirvam estas palavras de voz para tantos católicos exímios que se calam acabrunhados...


Home