Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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21 de abril de 1974 

Resistindo... 

A "Folha de S. Paulo" publicou um resumo da recente alocução do Santo Padre Paulo VI ao novo embaixador chileno Hector Riesle, que lhe apresentava suas credenciais.

O Sumo Pontífice não ignora quanto desconcerto e apreensão vai causando aos católicos, pelo mundo afora, sua détente com os países sob regime comunista. A ocasião era propícia para, se o quisesse S.S., remediar tal situação. Bastava-lhe exprimir ao diplomata sua alegria por ver a nação chilena libertada do jugo de um governo que a levava a uma dupla ruína: 1) espiritual, em virtude da inspiração ateia e marxista do presidente Allende; 2) material, em conseqüência da derrubada de dois pilares da normalidade econômica, ou seja, a livre iniciativa e a propriedade privada. Essas palavras do Santo Padre teriam, ao mesmo tempo, dessolidarizado sua sagrada e suprema autoridade da conduta pró-marxista do Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago.

Entretanto, ao que parece, a alocução do Soberano Pontífice nada conteve de análogo a essas palavras, que seriam tão naturais nos lábios de um Papa. Da alocução pontifícia destaco, até, uma frase que soa de modo bem diverso. Nela, o Santo Padre augura para o povo andino "uma fraternidade que, superando as animosidades e os ressentimentos, e excluindo as vinganças, envolva o restabelecimento de uma autêntica e recíproca compreensão através de uma reconciliação efetiva e sincera".

À primeira leitura, essas aspirações podem agradar. Porém, se bem analisadas, causam estranheza. Num país dividido a fundo entre dois imensos blocos, comunista e anticomunista, o Augusto Pontífice parece achar possível o despontar de uma era de concórdia em que, continuando uns e outros nas respectivas convicções, cessem as "animosidades", os "ressentimentos" e as "vinganças". Ora, está na essência da doutrina e da metodologia comunistas não ter com o adversário nenhuma "fraternidade" sincera, mover contra ele uma guerra contínua animada pelo ódio, e travada com todos os recursos da propaganda ou da violência, bem como fazer da vingança das "classes oprimidas" o leitmotiv de sua ação. Em face de tal adversário, os católicos podem e devem, sem dúvida, agir com uma elevação cristã, que não exclua, aliás, a firmeza. Mas é lhes impossível conseguir dos comunistas uma "autêntica compreensão", e menos ainda uma "reconciliação efetiva e sincera".

Desde que haja católicos de um lado e comunistas de outro, estes últimos imporão necessariamente uma luta. E essa luta os católicos a terão que aceitar com destemor, em qualquer campo em que sejam agredidos.

Não é difícil ver que as mencionadas palavras do Papa Paulo VI tendem a reproduzir, no campo interno da política chilena, uma conciliação entre católicos e comunistas análoga à que a Santa Sé vai tentando obter, no campo diplomático, com as nações comunistas. E que, na base de uma e de outra coisa, está o pressuposto de um comunismo sem ódio e sem vingança: de um comunismo irreal, que não poderia existir nem no mundo da utopia, pois seria um comunismo... não comunista.

* * *

Essas palavras do Santo Padre indicam aos católicos chilenos uma meta e um estilo de ação que os desmobilizam psicologicamente ante um adversário implacável, o qual de nenhum modo se desmobiliza. A aceitação de tal meta e tal estilo acarretaria assim, na ordem concreta dos fatos, uma catástrofe para os católicos e uma vitória para os comunistas chilenos.

* * *

— Só para os chilenos ? — O comunismo chileno não é senão uma parcela do comunismo internacional. Apresentando a psicologia dos comunistas chilenos sob luz tão otimista, essas palavras do Santo Padre produzirão, por toda parte em que forem publicadas, efeito análogo ao que terão produzido no Chile. E isto inclusive no Brasil, onde, se vão escasseando os terroristas, seria ingênuo imaginar que vão diminuindo — nos seus principais redutos, as sacristias e os salões — os comunistas "não-violentos".

Fazendo, pois, o presente comentário às palavras do Chefe Augusto da Cristandade, defendo meu País. Defendo a Cristandade. E assim procuro conservar para o próprio Pontífice, uma influência que sua estratégia lhe vai dia a dia roubando.

Nesse ato de resistência à política de Paulo VI não há outras componentes psicológicas senão o amor, a fidelidade e a dedicação. Dado que o Papa é o monarca da Santa Igreja, meu gesto importa em defender o reino em benefício do Rei, ainda quando, para tanto, deva incorrer no desagrado deste.

Mais longe, segundo me parece, não é dado ao homem levar sua dedicação.


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