10 de fevereiro de 1974
A glória, a alegria, a honra...
"O bom
pastor dá a vida por suas ovelhas" (S. João 10, 11).
Nestes
tristes dias, marcados por sua destituição do Arcebispado de Esztergom,
o Cardeal Mindszenty mais uma vez deu provas de que é um bom pastor,
representante genuíno e íntegro do Bom Pastor por excelência. Para lutar
contra o comunismo, que reduziu à miséria espiritual e material as suas
ovelhas, o Purpurado magiar acaba de sofrer o último sacrifício. E
talvez o mais doloroso.
Comemora-se neste ano o 25º aniversário de sua encarceração
pelos comunistas. Ficou célebre a fotografia que o mostra no banco
dos réus com olhar aterrado mas inquebrantável na resolução de cumprir
até o fim seu dever.
O mundo
inteiro viu essa fotografia, e estremeceu de horror e de admiração.
Veio depois o rápido intermezzo da sublevação anticomunista. E
começou então para Mons. Mindszenty o longo cativeiro na embaixada
norte-americana. Cativeiro no qual – oh mistério! – lhe era vedado o
contato até com os habitantes do edifício. Mas, como coluna solitária no
meio das ruínas de sua pátria, Mons. Mindszenty permanecia de pé,
continuando na sua conduta as grandezas religiosas e nacionais do reino
de Santo Estevão, e preparando, por seu exemplo, a ressurreição de seu
povo.
Consolava
ao menos ao Cardeal o apoio corajoso, firme, contínuo, de Pio XII. E por
certo se sabia alvo da admiração comovida da Cristandade. Em tão firme
alicerce, a coluna altaneira enfrentava ilesa, ao longo dos anos, as
borrascas e os sóis.
A medida
do sofrimento que lhe era pedido pela Providência parecia preenchido.
Seu holocausto se terminaria nessa solidão trágica, nessa universal
admiração.
Mas havia
ainda o que dar. Ora, o bom pastor dá tudo. Dá a própria vida. [A
exemplo de] Nosso Senhor "como amasse os seus, amou-os até o fim" (São
João 13,1).
E cumpria
que em torno da coluna grandiosa se fizesse o ocaso da admiração, e sua
própria base sofresse o maior dos golpes.
Morto Pio
XII, em largos setores católicos a tendência à colaboração com o
comunismo foi apagando a admiração para com o grande Cardeal. Por fim,
do trono de São Pedro foi-lhe pedido que renunciasse ao isolamento
grandioso na Hungria em ruínas e aceitasse a trivialidade de um exílio
confortável. O grande Cardeal obedeceu. Nunca a voz de Pedro se mostrou
mais poderosa do que ao por de joelhos o varão altaneiro, a quem a
pressão conjunta de Moscou e Washington não conseguira vergar.
Paulo VI
deu-lhe como residência uma torre austera e solitária nos jardins do
Vaticano.
Que
mistérios levaram Mons. Mindszenty a sair só, da sua torre, e a aparecer
subitamente em Viena? Ninguém o sabe. O fato é que, novamente como
coluna solitária, ele se fixou na capital austríaca, projetando sua
sombra benfazeja por cima da fronteira da pátria tão próxima.
Ó força, ó
grandeza! Até sua sombra atrapalhava os vis tiranos que governam a
Hungria. Foi preciso abater a coluna.
E então as
mãos mais sagradas da terra abalaram a coluna e a atiraram, partida, ao
chão. Mons. Mindszenty já não é Arcebispo de Esztergom.
O
sacrifício chegou ao fim, o pastor acabou por dar tudo.
Mas, ó
louca ilusão dos homens! Se caiu o Arcebispo ao perder sua diocese,
cresceu até as estrelas a figura moral do bom pastor que dá sua vida
pelas ovelhas. E nesta figura grandiosa, todos os católicos
anticomunistas do mundo – todos os católicos genuínos – haurimos alento,
força, esperança invencível. E nossa aclamação sobe até a grande vítima:
"Tu gloria Jerusalem, tu laetitia, Israel, tu honorificentia populi
nostri" (Judith 15,10). És tu a glória da Igreja, és tu a alegria dos
fiéis, és tu a honra dos que continuam a luta sacrossanta.