Folha de S. Paulo,
25 de
junho de 1969
A
bomba, a estrela e o sapo
Estas
três coisas te sucederam nestes últimos dias, meu caro leitor.
Uma
bomba foi atirada contra ti.
Uma
estrela luziu com redobrada força em teu firmamento.
Ao
alcance de teu ouvido, pudestes notar as rãs que do fundo de seu lamaçal
coaxavam mais forte.
* * *
Vamos
antes de tudo à bomba. Ela não arrebentou em tua pessoa, leitor, nem em
teus haveres. Mas ela te feriu em algo ainda mais precioso. Sim, a bomba
de dinamite, que em horas calmas da noite, um braço anônimo depositou em
uma das sedes da TFP, estourou em tua dignidade. O estampido enorme que
alcançou vários bairros, anunciou a toda a cidade este fato lúgubre:
procura-se algemar o Brasil, procura-se algemar-te a ti leitor.
Intenta-se fazer de ti, brasileiro independente e cristão, um pobre
servo da pior das tiranias, a do terrorismo.
Eis
porque o digo: o que valeu à TFP - pergunto - a honra daquela bomba? A
convicção, o denodo e a eficácia com que ela se afirmou em 1961-1963
contra a reforma agrária de Jango, com que ela se opôs em seguida ao
divórcio, e clamou depois contra a infiltração comunista na Igreja. Pois
nenhum outro fato há que possa explicar tal ódio contra nossa entidade.
Ora,
se qualquer destas atitudes merece como pena um atentado a bomba,
decretado por personagens embuçados no anonimato, igual "castigo" se
estende, em rigor de lógica, aos 27 mil agricultores que - fundados em
sua consciência cristã - protestaram conosco contra a reforma de
Goulart. Ela cabe também aos 1.042.359 brasileiros que, fiéis ao
mandamento de Cristo, assinaram nossas listas em favor da
indissolubilidade do matrimônio. Ela alcança, por fim, aos 1.600.368
brasileiros que conosco exprimiram a firme e inabalável vontade de ver a
igreja livre da infiltração comunista.
Se
estás entre estes sentenciados, não é verdade que os que jogaram esta
bomba contra nós quiseram acovardar-te a ti? E, supondo-te capaz de um
acovardamento de tua consciência, não é verdade que feriram tua
dignidade cristã... à espera do momento em que te firam, nos bens e na
vida?
E
ainda que não concordaste com nossas várias campanhas, ó leitor, não é
bem verdade que teu senso de dignidade protesta inconformado ao ver que
conspiradores sem entranhas querem, por esta forma, oprimir milhões de
teus irmãos.
* * *
E
agora a estrela.
A TFP
está difundindo um número especial de "Catolicismo", publicado sob os
auspícios do ilustre bispo D. Antônio de Castro Mayer. Nesse mensário de
cultura é publicado um impressionante conjunto de documentos e
comentários, que põem a nu uma vasta trama, instalada na própria Igreja,
para levar todos os católicos ao ateísmo. É a conjuração do IDO-C e dos
"grupos proféticos", sobre os quais já escrevemos neste jornal. O tema
é, como se vê, essencialmente religioso. A difusão de "Catolicismo" se
funda, pois, do ponto de vista do direito positivo, na liberdade de
religião, assegurada pela Constituição. A receptividade do público para
esse número de "Catolicismo" se vem mostrando enorme em várias capitais
do Brasil. Só em São Paulo já foram vendidos por nossos jovens, em dois
dias, 3.469 exemplares do jornal. E de um jornal que não trata de
matéria sensacionalista, e, portanto, interessa, por sua natureza, a um
público menos amplo, afeito à reflexão.
Ora,
na segunda-feira, centenas de jovens, sócios, militantes ou cooperadores
da TFP - universitários, comerciários e operários - vendiam o jornal no
Triângulo central da Capital paulista. A certa altura, uma garotada, que
nada entendia de assuntos religiosos, se pôs a vaiar e insultar os
jovens da TFP. Era visível que obedeciam a uma palavra de ordem bem
estudada, e seguiam os métodos clássicos de agitação.
Por
que comunistas queriam interromper a difusão de um jornal que fala
contra a Igreja Nova? Sem analisar aqui o fato, digamos somente que a
vaia parecia prestes a contagiar outros magotes de desordeiros esparsos
pela praça, como a intimidar o público simpático mas indefeso.
Entretanto, os jovens da TFP reagiram com um élan admirável. Depois de
revidar sumária e moderadamente algumas agressões físicas dos
arruaceiros, foram os da TFP avançando aos brados compassados de
"agressores, agressores - liberdade, liberdade". E diante desta pacífica
investida dos arautos da Tradição Família e Propriedade, que com seus
grandes estandartes rubros e suas capas da mesma cor davam uma nota
épica ao lance, a baderna recuou. Esse o episódio central de uma luta
que a firmeza e a paciência da TFP impediu de ser cruenta.
Nesta
hora, uma estrela brilhou com força maior em teu horizonte, ó leitor.
Era a afirmação de um Brasil jovem, heróico e ordeiro, a pôr em retirada
um anti-Brasil arruaceiro, odiento, implacável. De um Brasil inautêntico
"made in" Havana, Pequim ou Moscou.
* * *
E,
por fim, coaxaram mais forte os sapos. Em meio a um público
invariavelmente simpático à TFP, foi desta vez maior do que de costume o
número de carros - vários de luxo - que passaram domingo, a toda
velocidade, pelas nossas bancas, a gritar insultos de inspiração
comunista.