2 de
abril de 1969
Mais
alguns dados sobre o dinossauro
O
leitor por certo terá conservado na memória o conjunto impressionante de
editoras, revistas, jornais etc., com que o IDO-C conta, e que formam o
maquinismo superpotente e silencioso denominado em meu último artigo
"dinossauro discreto". Entre os mais possantes membros do "dinossauro"
encontra-se, nos Estados Unidos, o "Catholic Establishment". A respeito
deste desejo oferecer ao leitor mais alguns dados publicados por
revistas católicas conceituadas como "Approaches", "Triumph" e a própria
"Informations Catholiques Internationales", ligada ao IDO-C.
Um
depoimento muito significativo sobre o papel do "Catholic Establishment"
foi fornecido por John Leo, na revista norte-americana "The Critic"
(dez. 66-jan.67). Tanto o articulista quanto a revista pertencem ao "Establishment".
Uma
correia de transmissão de idéias. Através de seus múltiplos órgãos de
difusão, o "Establishment" emprega uma técnica definida de divulgação
ideológica eficientíssima. De início, os grandes órgãos ligados ao IDO-C
lançam uma palavra de ordem que vai sendo difundida fielmente pela
imprensa católica de maior calibre. Em seguida, esta palavra de ordem
vai ecoando nos jornais e revistas de porte médio, e obtém sua
repercussão última nos órgãos de imprensa ínfimos. Assim, por uma
verdadeira "corrente transmissora de idéias", o "Establishment" domina
toda a imprensa segundo a qual se modela a opinião católica.
Mútua
propaganda dos "ladrões de microfones"
No citado artigo do "The Critic",
há dois textos que posso acrescentar aos dados que sobre o assunto
publiquei em meu último artigo. Dizem respeito ao método do mútuo
incensamento. Os estudantes, jornalistas e ativistas que formam a
"fraternidade aberta mas exclusiva" dos "ladrões de microfones",
dirigidas pelo "Establishment", agem de parceria: eles "publicam
manuscritos uns dos outros, criticam elogiosamente seus livros
recíprocos, citam-se mutuamente nas conferências que eles se convidam a
dar, agrupam estas conferências e artigos em livros, propiciando por aí
um novo início de discussões".
Despistamento
Mas, para evitar a impressão de que os intelectuais
orquestrados pelo discreto dinossauro não têm autonomia e obedecem à
mesma batuta, alguns debates sobre pontos secundários são organizados
entre eles. Assim, embora seja certo que "habitualmente atacam as mesmas
coisas e mutuamente se defendem" contra terceiros, criam a ilusão de
livre debate (cf. "The Critic", art. cit.).
Os
"criadores de casos"
Como todo mecanismo publicitário completo, também
o "Establishment" possui ativistas especializados em criar "casos": por
exemplo, a conhecida Irmã Corita, agitadora, pintora de "pop art", e que
se refere blasfemamente a Nossa Senhora como a "garota do suco de
tomate" (cf. "Herald of Freedom", de 13/12/68).
Piramidalização de influências
Muito característico do modo por que
funcionam certas engrenagens do IDO-C é o papel do padre McManus, que
está no vértice de uma pirâmide de cargos e influências em matéria de
liturgia. Fundou ele, e preside, a Conferência Litúrgica, que dispõe de
células de ativistas litúrgicos em todo o país. Estas células pressionam
o clero para aceitar as reformas litúrgicas patrocinadas pela Comissão
Episcopal de Apostolado Litúrgico, órgão oficial do Episcopado
americano. Ora, é o mesmo McManus que dirige esse órgão, de sorte que a
elaboração das idéias e diretrizes, bem como a direção das inúmeras
células de agitação litúrgica estão em mãos dele. Mas há mais. O mesmo
Pe. McManus é quem envia sugestões de Reformas sempre mais ousadas ao
Comitê Internacional para a Liturgia em Inglês, órgão dos Episcopados
dos países de língua inglesa. Assim, a influência desse sacerdote
alcança um âmbito verdadeiramente internacional. Como se isso não
bastasse, é ainda o mesmo Pe. McManus o chefe de uma central
distribuidora de sermões que envia esquemas para milhares de sacerdotes
(cf. "Triumph", artigo "The Liturgy Club", de Gary Potter, maio de
1968).
"Liturgia para uma situação revolucionária"
Para se ter certa noção da
ideologia pela qual McManus age, basta dizer que os organismos
litúrgicos sob seu comando promoveram, em agosto do ano passado, em
Washington, um grande congresso sobre o tema "Revolução: respostas
cristãs". Segundo o programa do congresso, as finalidades desse certame
litúrgico eram as seguintes: "Na superfície, a Igreja, assim como outras
instituições humanas com propriedade e outras formas de riqueza, parece
ser uma excelente defensora do "status quo" e a arquiopositora da
revolução. A fé bíblica, porém, em alguns de seus mais importantes
elementos, lança as sementes da revolução, da esperança, da inquietação
e da luta humana... A mensagem de fé bíblica é congênita à revolução de
vários modos importantes... Em nossa época (os ritos sacramentais)
precisam falar de e para uma situação revolucionária" (cf. "Triumph",
art. cit.).
Mr.
Colaianni, líder litúrgico, exclamou: "Vivemos numa época
revolucionária, e a liturgia deve ser revolucionária" (cf. "Triumph",
art. cit.). Surpreendente é o fruto que um certo padre, citado embora
com reservas pelo Pe. J. M. Connolly, outro líder litúrgico, pretende
colher do fato de que a liturgia não se celebra mais em latim, mas em
vernáculo: "Agora que temos a liturgia em inglês, o povo irá realmente
ver quão absurda ela é... a liturgia nada diz sobre a situação, as
necessidades e os modos de ver profundos do homem contemporâneo" (cf.
folheto "The Liturgical Conference", do Pe. J. M. Connolly).
Bem
se vê que Colaiani, e com ele seus pares, desejam uma liturgia
completamente diferente da atual, uma liturgia que diminua a atenção
dada a Deus e aumente enormemente a que se dá aos problemas terrenos dos
homens.
O
escândalo causado por este congresso foi tal que o Cardeal O'Boyle,
conhecido por sua extrema moderação, o condenou.
"Desintegração de estruturas" na Igreja. A revolução feita nos Estados
Unidos por esses potentíssimos instrumentos ganha terreno dia a dia, a
tal ponto que o sociólogo católico Peter Foot, entusiasmado ante o fato,
exclamou: "Sim, sem dúvida, estamos assistindo à desintegração das
estruturas!(...). É formidável: vemos a Igreja de amanhã nascer sob os
nossos olhos. É preciso, antes de mais nada, desembaraçarmo-nos de todos
os nossos preconceitos..." (cf. "Informations Catholiques
Internationales", de 1-12-68).
* * *
A meu
ver, é bem evidente que, dado o caráter subreptício da infiltração do
IDO-C, não se pode afirmar que cada um dos organismos que a ele se
filiaram, serve consciente e intencionalmente, à causa dele: por
exemplo, não é certo que cada uma das editoras filiadas ao IDO-C conheça
os fins deste e deseja servi-los. É uma ressalva que parece até
desnecessária à vista da própria natureza astuta do IDO-C...
Qual
será o "credo" integral que o IDO-C infiltra assim nos meios católicos?
As
informações de "Approaches" não fornecem muitos dados a respeito. Notei,
entretanto, que o comitê central britânico do IDO-C edita uma revista
favorável às doutrinas do jesuíta progressista Teilhard de Chardin.
Propugna este uma concepção religiosa nova centrada no homem, e no homem
moderno. Essa "religião" evolucionista tem alcançado enorme penetração
nos meios católicos progressistas. Serão ajustáveis a ela os objetivos "idocianos"
que acabamos de ver? É uma pergunta que nos fazemos.
Qualquer que seja a resposta, é incontestável a enorme importância das
revelações de "Approaches", que registro para a análise de todos os
interessados.