Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 22 de fevereiro de 1969

Nasce a TFP

Nosso período catacumbal durou quatro anos. Mas quatro que traziam constantemente consigo os tristes sintomas de um estado definitivo e sem remédio. Imagine o leitor um pugilo de líderes já sem liderados, um grupo que já cumpriu sua missão, sobreviveu a ela, e fica sobrando. Esta a nossa situação quando o mais velho de nós tinha 40 anos e o mais jovem 25!

Resolvemos continuar unidos, em uma vigília de oração e análise dos acontecimentos até quando Deus quisesse.

Alugamos uma pequena sede na rua Martim Francisco, e ali nos reunimos todas as noites sem exceção. Recordação, sem amargura nem orgulho, das glórias da imolação dos dias idos. Análise solícita e entristecida, da deterioração discreta e implacável da situação religiosa. Estudos doutrinários em comum. Convívio fraterno e cordial. Assim, a Providência colocava as condições ideais para nos unir. Veio daí um tal enrijamento de nossa coesão no pensar, no sentir e no agir, como mais seria difícil imaginar. Escondida em terra, a semente germinava.

A nosso lado, organizava-se a solidariedade preciosa e discreta de um pugilo de moças que conosco lutara na Ação Católica contra o progressismo nascente, e também se retirara conosco para o ostracismo.

E ainda assim a morte ceifou três lutadores nessas fileiras tão escassas de membros. O primeiro foi o delicado, o intrépido, o nobre filho de Nossa Senhora, nosso inesquecível José Gustavo de Souza Queiroz. Lembro também com respeito e saudades a personalidade ardorosa, mas ao mesmo tempo silenciosa e suave, de uma militante da JOC (Juventude Operária Católica), Da. Angela Ruiz. E o vulto batalhador e tão distinto desse chefe de família modelar, desse cirurgião exímio que toda Santos admirou, desse professor universitário saliente, desse pai dos pobres que foi Antônio Ablas F.º.

* * *

Ainda me lembro de um dia de janeiro de 1947, em que noticiei a meus amigos que, segundo uma emissora, Pio XII nomeara bispo de Jacarezinho o Pe. Sigaud. Como? O quê? Nossa alegria era grande, mas a dúvida ainda maior. O Pe. Sigaud, durante o vendaval, fora mandado como missionário à longínqua Espanha. Voltaria então? Sim, voltaria. E nossa alegria subiu ao céu como um hino. Uma estrela se acendia, a brilhar na noite de nosso exílio, sobre os destroços de nosso naufrágio!

Contra toda a expectativa, outra alegria nos esperava no ano seguinte. Ao chegar eu, numa noite de março de 1948, à nossa catacumba, um amigo me esperava à porta, efervescente de júbilo. O cônego Mayer, que passara, durante a tormenta, do alto cargo de Vigário Geral de Arquidiocese para vigário do distante, e aliás tão simpático, Belenzinho, acabava de nos comunicar sua nomeação para bispo-coadjutor de Campos. É inútil dizer com que exultação fomos no mesmo instante felicitá-lo.

A sucessão dos fatos tinha um significado iniludível. Essas duas nomeações, uma em seguida à outra, valiam por um testemunho de confiança de Pio XII, que envolvia obviamente a atuação anterior de ambos os sacerdotes...

Essas duas surpresas não foram as maiores. Exatamente um ano depois, um religioso muito amigo, cujo nome não ouso declinar sem consultá-lo (e ele está de viagem), me entregou uma correspondência vinda do Vaticano para mim.

Era uma carta oficial em latim, assinada por Mons. João Batista Montini, que dirigia então a Secretaria de Estado da Santa Sé. Eis seu texto em português:

"Palácio do Vaticano, 26 de fevereiro de 1949.

Preclaro Senhor: Levado por tua dedicação e piedade filial ofereceste ao Santo Padre o livro "Em Defesa da Ação Católica", em cujo trabalho revelaste aprimorado cuidado e aturada diligência.

Sua Santidade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica, da qual possuis um conhecimento completo, e a qual tens em grande apreço, de tal modo que se tornou claro para todos quão importante é estudar e promover tal forma auxiliar do apostolado hierárquico.

O Augusto Pontífice de todo o coração faz votos que deste teu trabalho resultem ricos e sazonados frutos, e colhas não pequenas nem poucas consolações. E como penhor de que assim seja, te concede a Benção Apostólica".

Desta vez, tudo se tornava cristalino. Pio XII louvava e recomendava o livro do kamikaze.

* * *

Dir-se-ia que, com estes três fatos, a situação voltava a ser para nós o que era antes de 1943. Engano. No que diz respeito aos ex-redatores do "Legionário", ela ficou inalterada. Surpreendente contradição dos fatos, sobre a qual é cedo para falar. Mas um acontecimento sobreveio mais ou menos paralelamente a essas vitórias, que marcaria a fundo nosso futuro.

O Pe. W. Mariaux, S.J., fundara, no Colégio São Luís, uma Congregação Mariana brilhante. Destinado o notável jesuíta, para a Europa, por seus Superiores, parte dos congregados nos procurou solicitando ingresso em nosso grupo. Eram cerca de 15 elementos jovens, de inteligência e capacidade de ação invulgares.

Conosco, constituíram eles uma só equipe para a qual o valoroso D. Mayer abria as colunas do grande mensário de cultura "Catolicismo", que fundou em 1951. Esse mensário levantou de novo o pendão da luta contra o progressismo. De significação igualmente primordial foi a publicação, por D. Mayer, em 1953, da Pastoral sobre Problemas do Apostolado Moderno, que também estigmatizava o progressismo. Foi ela, em seguida, editada na Itália, na França, na Espanha, no Canadá e na Argentina.

Nossas fileiras se iam engrossando. Um jovem professor secundário, recrutador magnífico, começou a nos trazer anualmente uma rica safra de valorosos amigos, filhos da emigração, italianos, sírios, japoneses, espanhóis, alemães etc.

Como as circunstâncias do País iam mudando, nosso interesse se ia ampliando cada vez mais para o campo social. Escrevi então, em 1959, um ensaio expondo nossas teses essenciais na matéria. Intitulou-se "Revolução e Contra-Revolução". O trabalho teve oito edições: duas em português, uma em francês, uma em italiano e quatro em espanhol.

Estava criado o campo para se desprender de todos estes antecedentes uma ação de uma natureza diversa, isto é, tipicamente cívica e temporal.

Em 1960, se constituía a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, para junto da qual afluíram todos os amigos que o idealismo, a desventura, a fidelidade, e as recentes alegrias tão intimamente havia fundido em uma só alma.


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