30 de março de 1991
Entrevista ao "Diário Popular"
Diário Popular - Com relação à palestra do Sr. agora nesse Círculo [monárquico], quais são as inquietações e esperanças que o Sr. coloca para o Brasil de hoje?
Plinio Corrêa de Oliveira - O mundo está num estado de confusão geral tanto no Leste quanto no Oeste. É uma confusão da qual pode sair qualquer coisa. Por outro lado, especificamente a América do Sul e mais especificamente o Brasil parecem estar passando da confusão para o caos.
DP - A que o Sr. atribui essa análise do Sr.?
PCO - Eu atribuo a que o Brasil foi muito sacudido pela propaganda comunista, tendências comunistizantes de toda ordem, e, sobretudo, a crise progressista dentro da Igreja Católica, que é a maior força espiritual do Brasil.
Eu estou falando talvez um pouco depressa, não?
DP - Está bom, está perfeito.
PCO - Acrescido a isso tudo, a situação da dívida externa.
DP - E quais são as esperanças?
PCO - A esperança é a seguinte: eu noto na massa do povo brasileiro, que a meu ver o grande desconhecido no Brasil é o povo brasileiro...
DP - Por quê?
PCO - Vamos ver daqui a pouquinho.
Em geral eu noto no povo brasileiro, eu noto um grande lastro de bom senso e de uma tendência a frear todos os delírios - freá-los num sentido conservador. Agora, o que é que eu entendo por povo brasileiro?
DP - Frear todos...
PCO - Todos os excessos, todos os delírios.
Agora, o que é que eu entendo por povo brasileiro? Aqui está a questão.
Eu entendo por povo brasileiro, vamos dizer, esse peso sensato do povo brasileiro não está no jet set. Não me queira muito mal, mas é raro na midia, esse bom senso é raro na midia e em geral nas nossas cúpulas: cúpula política, cúpula universitária, cúpula econômica. Todos esses se deixaram impressionar pela idéia de que o comunismo está tomando conta do Brasil e que, portanto, é preciso ceder. A convicção sensata de que não está tomando conta e de que, portanto, não é preciso ceder, é preciso frear, se encontra na burguesia pequena, média e no povinho. Se quiserem no "povão".
DP - Com relação a todo Ciclo que está sendo realizado aqui, o Sr. acha que a população brasileira está preparada para aceitar o retorno da Monarquia, e até que ponto está preparada para aceitar?
PCO - Eu não pertenço a esse movimento monárquico, eu sou amigo dos príncipes, e sou monarquista doutrinário, mas não político. A TFP, da qual eu sou Presidente, é um movimento a-político. Eu venho aqui dizer a eles uma palavra de colaboração como tenho colaborado com todas as correntes políticas que tem procurado aproximar-se da TFP. Quer dizer, eu sou extra-partidário e a-político. De maneira que o Sr. está me pedindo aí, nesse ponto, uma opinião política e, portanto, fora de meu campo.
Está claro ou não?
DP - Perfeito. Mas de qualquer forma eu gostaria de saber a opinião do Sr.. Se há condições...
PCO - Condições há. Há condições para que o povo, o "povão" exatamente, bem esclarecido, sendo bem esclarecido, opte por esta solução. Não quer dizer com isto que eu esteja trabalhando nesse sentido. Quer dizer, portanto, a TFP e a ação monárquica são coisas completamente distintas.
DP - O grosso da população pode entender que a monarquia tem idéia da centralização do poder, e nisso possa até impedir um avanço...
PCO - Não, não me parece, porque a tradição monárquica brasileira é profundamente parlamentar, o exemplo de D. Pedro II deixou uma figura da monarquia inteiramente diferente do monarca absoluto, de maneira que não me parece que eles tenham que recear este perigo.
DP - De centralização...
PCO - É, de despotismo. O Sr. está falando sobre o nome de centralização, mas no fundo é despotismo. Quer dizer, o czarismo, vamos dizer.
DP - No entender do Sr...
PCO - Não, ah não. Depois eu conheço muito bem Dom Luís e Dom Bertrand, e sei das posições profundamente opostas a essa monarquia absoluta e centralizadora da qual o Sr. está falando.
DP - Só mais duas perguntas. Como fazer chegar à maioria da população essa idéia de monarquia para a população entender e talvez até trazer um bom número de simpatizantes...
PCO - Os meios, eles não me dizem o que é que eles estão pensando, eu me mantenho alheio a isso. Mas o que me ocorre aqui é a midia, não tem outro remédio.
DP - Via midia?
PCO - Eu não vejo outro meio.
DP - E em ações concretas...
PCO - Para ser conhecida no Brasil inteiro sem a midia, só a TFP. O Sr. há de reconhecer que a midia não favorece a TFP. Entretanto, não há um lugarejo do Brasil onde a TFP não seja conhecida. O Sr. vai em qualquer lugar, qualquer "caixa prego", tem gente que conhece a TFP.
DP - Que tipo de ação concreta junto à população, deveria ser feito e pode ser feito para divulgar...
PCO - Isso escapa à minha ação. Eu não interfiro na atividade de uma organização a qual eu não pertenço, que é a Ação Monárquica.
DP - O Sr. acredita que a monarquia, considerando esse plebiscito de 93, seria a solução mais adequada, ideal para governar esse país?
PCO - Eu tenho a impressão - aqui estou falando como brasileiro, como cidadão brasileiro simplesmente e não como presidente da TFP - eu acho que uma coisa é certa: que se a monarquia tivesse desfechado no resultado que desfechou a república, seria o caso de suprimi-la. Isso ninguém nega.
DP - A monarquia tem chances e seria o caminho mais viável...
PCO - É possível que muitos brasileiros pensem como eu. É razoável que muitos brasileiros pensem como eu.
DP - Então, entre os três, o Sr. prefere...
PCO - Quais são os três?
DP - Presidencialismo, Parlamentarismo...
PCO - Parlamentarismo e presidencialismo é uma matéria que está fora do assunto monarquia, são dois assuntos. Monarquia é uma coisa: é a forma de governo que tem à testa um rei. Há duas modalidades de monarquia: parlamentar e absoluta. A parlamentar é a única viável hoje em dia.
DP - Isso para o Brasil?
PCO - Para o Brasil. Não se pode pensar em outra, não cabe. Ninguém aceitaria, não vai.
DP - Aí o Sr. não está questionando a questão do Parlamentarismo e Presidencialismo...
PCO - O plebiscito é o seguinte: Monarquia ou república, um ponto. Agora, ponto dois: se for monarquia, será absoluta ou parlamentar? Terceiro: se for república, há de ser presidencial ou parlamentar?
Quer dizer, são no fundo quatro...
DP - Uma análise do Sr. fazendo a comparação da república com a monarquia, a viabilidade para o Sr. qual é?
PCO - Ah, isso eu não sei. Eu estou fora disso, a TFP cuida de outras questões.
DP - Muito obrigado.