Tema candente analisado pela TFP
O que pensar da perestroika à luz da Mensagem de Fátima?
Declarações do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e do Engº Antonio Augusto
Borelli Machado a 30 Giorni"
A REVISTA CATÓLICA italiana "30 Giorni" procurou em fevereiro último o
"bureau" de representação das TFPs, sediado em Roma, com o fim de colher
dados para uma entrevista sobre a TFP brasileira e sua posição em face
da mensagem de Fátima e as recentes alterações ocorridas no mundo
comunista.
O encarregado do "bureau", Sr. Juan Miguel Montes, comunicou-se com o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em São Paulo, o qual solicitou que a
mencionada revista lhe encaminhasse as perguntas referentes à matéria.
Foram então apresentadas sete perguntas. Respondeu-as em sua maior parte
o Presidente do CN da TFP. O eng.° Antonio Augusto Borelli Machado,
estudioso do tema Fátima e autor de conhecida obra sobre o assunto, deu
resposta a duas perguntas de sua especialidade.
A edição italiana de março, de "30 Giorni", publicou extenso artigo sob
o título "Milagre no Leste? A Virgem prometeu... ", de autoria de
Stefano M. Paci, que serviu como matéria de capa.
O tema também é abordado no editorial da revista. No interior desse
artigo figuram 49 linhas sobre a TFP, contendo algumas informações
imprecisas e até distorcidas relativamente à entidade.
Em vista disso, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira endereçou a "30 Giorni"
urna carta, retificando tais imprecisões e distorções. A direção da
revista assegurou que a missiva seria estampada na íntegra em próxima
edição.
As edições norte-americana, francesa e espanhola da publicação
apresentam, no referente à TFP, textos, com pequenas e irrelevantes
alterações, análogos ao da edição italiana.
Na edição brasileira, não constam as informações infundadas - inseridas
nas outras edições - de que a TFP realizaria procissões públicas, por
ocasião do dia 13 de maio, e desfilaria pelas ruas da cidade com hábitos
da ordem dos templários. Como a quase totalidade das respostas
encaminhadas a "30 Giorni" não foi aproveitada pelo mensário italiano, a
direção de "Catolicismo "julgou do maior interesse para seus leitores
conhecer o texto integral dessa matéria, praticamente inédita no Brasil,
e cujo alcance e atualidade é desnecessário acentuar.
Dessa forma. reproduzimos a seguir a íntegra de tais respostas, bem como
as 49 linhas estampadas por "30 Giorni" sobre a TFP e a carta dirigida
consecutivamente ao mensário pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, com
as devidas retificações.
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Nota deste site: para aprofundar o tema, consulte a obra acima, clicando
na imagem
Declarações do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e do Eng.
Antonio
Augusto Borelli Machado a "30 Giorni"
30 Giorni – Como nasceu e quais são as finalidades do movimento
"Tradição, Família, Propriedade"?
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
– A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
nasceu na cidade de São Paulo (Brasil) em 1960. Constituiu-a um grupo de
católicos militantes, impressionados pelo ímpeto do esquerdismo católico
(e também do progressismo), então na sua primeira fase de expansão no
mesmo país.
Os fundadores da TFP não quiseram fazer obra meramente negativa, isto é,
anticomunista, anti-socialista etc., mas obra também positiva. Para
isto, deliberaram empenhar-se em que três alvos da ação demolidora
esquerdista fossem especialmente tonificadas e bem compreendidas pelo
grande público: a tradição, a família, e a propriedade.
A finalidade da TFP está definida no artigo 1º dos respectivos
estatutos, o qual diz expressamente que a Sociedade
"tem caráter cultural e cívico, visando esclarecer a opinião nacional e
os Poderes públicos, sobre a influência deletéria exercida sempre mais,
na vida intelectual e na vida pública, pelos princípios socialistas e
comunistas, em detrimento da tradição brasileira e dos institutos da
família e da propriedade privada, pilares da civilização cristã no
País".
Face ao direito canônico, a TFP se qualifica
como uma associação de inspiração católica, integrada por fiéis leigos
que atuam no campo temporal, sob sua única e exclusiva responsabilidade
(cfr. Código de Direito Canônico, cânon 227), norteados pelo ensinamento
tradicional do Supremo Magistério da Igreja, e estruturada juridicamente
segundo as leis civis.
Desse modo, se considerada do ângulo das leis do Estado, ela é uma
associação cívica, cultural e beneficente, regida por estatutos civis;
se vista do ângulo das leis eclesiásticas, cabe vê-la como uma
associação particular, constituída pelo livre acordo de fiéis entre si,
no uso do direito de que gozam de fundar e dirigir livremente
associações "para fins de caridade e piedade, ou para fomentar a vocação
cristã no mundo" (cânon 215).
30 Giorni – Em que consistem as dificuldades que o movimento tem com a
Hierarquia eclesiástica? Esta formulou alguma censura eclesiástica com
relação aos Srs.? Que ligações têm o movimento com Dom Lefebvre?
Prof. PCO –
A TFP visa, dentro dos limites de seus fins específicos, trabalhar pela
ordenação da sociedade temporal segundo a doutrina tradicional da
Igreja. Precisamente nesse campo, é notório que as divergências de
opinião entre os católicos não têm feito senão agravar-se
consideravelmente, em quase todos os países. E, pois, também naqueles em
que existem TFPs.
Como é geralmente conhecido, essas divergências não existem apenas entre
leigos, mas igualmente entre eclesiásticos, inclusive Bispos.
Não é de espantar, pois, que tais divergências existam também entre
numerosos prelados brasileiros de um lado, e a TFP de outro lado. O que
leva o grosso da opinião pública a qualificar de "direita" ou de
"extrema-direita" a TFP, ao mesmo tempo que qualifica múltiplos Srs.
Bispos de "esquerda" e alguns até de "extrema-esquerda".
"Censura eclesiástica" no sentido canônico e próprio do termo, a TFP não
recebeu nenhuma. Mas, procedentes de Srs. Bispos, Arcebispos, ou até
Cardeais, houve ao longo da história da TFP vários pronunciamentos
discordantes. Esses pronunciamentos versaram sobre temas como nossas
campanhas contra o divórcio e contra a Reforma Agrária socialista e
confiscatória, bem como nossa apreciação sobre a impunidade do avanço
esquerdista nos meios católicos, e temas correlatos. Em todos os casos,
a TFP respondeu com respeitosa firmeza aos venerandos objetantes.
A TFP não tem vínculos com o movimento de Mons. Lefebvre. Não os tem
depois de haver sido este excomungado, porém igualmente já não os tinha
muito tempo antes.
30 Giorni – Gostaria que me indicasse os "números" do movimento (em
particular no tocante à sua difusão no Brasil); os países de maior
difusão, o número de aderentes e os critérios com que é avaliado, as
revistas (nomes e tiragens das principais) e as eventuais casas editoras
que possuam, os locais de culto, o número de sacerdotes que aderem aos
Srs.... e tudo aquilo que o Sr. considera útil para mostrar a amplitude
do movimento.
Prof. PCO –
No Brasil, a TFP conta com cerca de 23 mil sócios (no sentido amplo e
mais moderno do termo, que abrange também os supporters, simpatizantes,
e quantos tomam parte, de um ou de outro modo, no esforço comum da TFP).
Neste número se incluem evidentemente pessoas diversas pela idade, pelo
estado civil, pelas condições sociais, nível de cultura etc. Esse número
cresce incessantemente.
Entre tais sócios da TFP são sobretudo numerosos os jovens. Também
cresce o número de nossos correspondentes (agentes locais), que formam
núcleos nas periferias urbanas, ou seja, nas camadas menos abastadas da
sociedade.
Para ser benfeitor ou simpatizante da TFP, ou para prestar a esta uma
colaboração esporádica, não há critérios de aceitação inteiramente
definidos. Em tese, a boa vontade basta. Sempre que – é claro – não se
trate de pessoa cuja posição doutrinária ou moral aberrante dos
principias e das normas de ação da TFP, provoque no público explicável
escândalo. Quanto ao mais, devem ser católicos praticantes, de vida
correta, que se professem aderentes sinceros das doutrinas e metas da
entidade, e o demonstrem por seu procedimento e abnegada atuação.
É necessário que sejam todos católicos? A TFP tem recebido como
principiantes, ateus, protestantes, greco-cismáticos, maometanos,
budistas etc. Porém, sem nenhuma exceção, todos os que, nessas
condições, permanecem na TFP, se convertem.
Ao contrário do que se poderia imaginar, os opositores mais radicais e
acesos da TFP se situam em certa alta sociedade mundana, qualificada de
jet set, bem como entre os clérigos e religiosos mais preocupados em se
mostrarem "no vento" das diversas modernidades, e também nos meios
profissionais da midia.
A expansão da TFP se deve, em muito larga medida, às caravanas da
entidade que desde 1970 palmilham incessantemente nosso país-continente:
4 milhões de quilômetros percorridos (equivalente a 10 viagens até a
Lua), 20 mil visitas a cidades 1,4 milhões de publicações vendidas. E
também às brilhantes campanhas de rua promovidas pelos setores juvenis
que atuam em caráter permanente nas respectivas cidades.
Sua pergunta sobre os "países de maior difusão" pede uma precisão. Em
cada país no qual haja uma entidade – não necessariamente denominada TFP
– em relações fraternas com a nossa, constitui ela uma sociedade com
diretoria própria, estatutos próprios, e recursos pecuniários também
próprios. Em outros termos, cada entidade da "família" TFP é
absolutamente autônoma. Como vínculo de união entre elas, existe a
comunhão de doutrina e de metas resultante da livre adesão de todos ao
conteúdo do livro "Revolução
e Contra-Revolução", e da analogia dos métodos de ação
adotados.
Para entreter e desenvolver esses vínculos, os dirigentes e membros das
várias TFPs costumam visitar a cidade de São Paulo, ponto de partida do
impulso inicial do movimento TFP em todos os continentes, onde tem sua
sede principal a entidade mais antiga e mais experiente, e na qual
reside o fundador da TFP brasileira. Essas visitas constituem também
ocasião para o intercâmbio de contatos entre as mais diversas TFPs.
Ser-me-ia ingrato discriminar, entre as várias TFPs irmãs, quais são as
"de maior difusão". Ademais, os critérios para classificar essa difusão
não são simples. Por exemplo, uma TFP mais numerosa pode contar cada ano
com um número maior de aderentes novos do que uma TFP pouco numerosa.
Mas o índice de crescimento desta última, proporcionalmente ao número
dos aderentes já inscritos, pode ser muito maior que os da primeira.
Só para não deixar sem alguma resposta sua pergunta, permita que eu lhe
dê em ordem alfabética a lista das TFPs, bem como a dos bureaux da TFP.
TFPs: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile,
Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Peru, Portugal,
Uruguai e
Venezuela (esta última dispersa pelo mundo, em conseqüência de
um decreto de fechamento do Governo Lusinchi, decreto esse tão injusto
que os próprios tribunais venezuelanos – em sentença definitiva –
reconheceram a improcedência das acusações então assacadas contra a
entidade). Bureaux TFP: Frankfurt, Londres e Edimburgo, Paris, Roma, San
José da Costa Rica, Sydney, Auckland (Nova Zelândia).
Quanto a nossos núcleos na Ásia, razões de prudência que o leitor
facilmente compreenderá, nos levam a achar prematura a divulgação de
dados informativos.
Quanto ao número de sacerdotes que aderem às diversas TFPs, varia
consideravelmente de país a país. Mas em sua maior parte são bastante
discretos no manifestarem sua adesão. Preferem até fazê-lo por carta, o
mais das vezes com certo caráter de confidencialidade, a fazê-lo por
contato pessoal. As razões deste fato são óbvias.
Passo a elencar os órgãos das TFPs: "TFP Newsletter" (África do Sul); "Pregón
de la TFP" (Argentina); "Catolicismo" (Brasil); "TFP Newsletter" e "TFP
Informe" (Canadá); "Tradición, Família, Propiedad" (Chile); "TFP
Informa" (Colômbia); "TFP Informa" (Equador); "Covadonga Informa"
(Espanha); "TFP Newsletter" (Estados Unidos); "Aperçu" (França); "TFP
Lusa Informa" (Portugal); "Lepanto" e "TFP Informa" (Uruguai); "TFP
Standpunkt" (Frankfurt); "TFP Informa" (San José); "TFP Newsletter"
(Sydney); "Christendom" (Auckland). Não lhes conheço a tiragem.
"Catolicismo" tem uma tiragem de 12.000 exemplares.

Mas é preciso notar que o público brasileiro está enormemente absorvido
pelas televisões e rádios e, em medida infelizmente não pequena, pelas
revistas pornográficas. O que torna difícil a existência de uma revista
séria como "Catolicismo". Mas posso acrescentar com alegria que nosso
esforço de expansão, o qual está sendo feito por meios modernos e
eficientes, vai correspondendo a nossa expectativa.
De momento, com a urgência com que nos foram pedidas as respostas a seu
simpático questionário, não me lembro dos nomes das várias editoras de
TFPs. Aliás, em via de regra não são das TFPs, mas empresas autônomas
com as quais as TFPs mantêm convênio. As editoras com as quais a TFP
brasileira trabalha são a Editora Vera Cruz, que edita os nossos livros,
e a Empresa Padre Belchior de Pontes, que edita "Catolicismo". E me
ocorre casualmente à memória a brilhante editora "Fernando III el
Santo", que serve à TFP espanhola.

30 Giorni – O Sr. acha que as mudanças que estão acontecendo no império
soviético são relacionadas com a aparição de Nossa Senhora em Fátima e
com a consagração "da Rússia" que João Paulo II fez em 1984? O Sr.
considera válida esta consagração? Se não a considera válida, como pensa
que possam ser interpretados os atuais acontecimentos no Leste?
Prof. PCO –
A correlação entre a mensagem de Nossa Senhora em Fátima e as atuais
transformações pelas quais, ao que parece, começa a passar a Rússia, é
evidente.
As aparições de Fátima ocorreram em 1917, pouco antes da queda do regime
czarista. Em conseqüência, tomou especial clareza a afirmação – bastante
nebulosa antes disso – de que "a Rússia (...) espalhará seus erros pelo
mundo..." (aparição de 13 de julho). E aí estão eles, isto é, os erros
do marxismo-leninismo, com adeptos no mundo inteiro.
A pergunta que os atuais acontecimentos da Rússia poderiam despertar, a
propósito da mensagem de Fátima, se enunciaria mais bem nos termos
seguintes:
"Com a ruína do capitalismo de Estado, que o Sr. Gorbachev vai levando a
cabo, desaparece da Rússia o comunismo. E este entrará forçosamente em
declínio no mundo inteiro.
"Desta forma, o comunismo não será mais um "erro da Rússia", e estará em
vias de minguar por toda parte. A disseminação do comunismo, prevista em
Fátima, não terá sido senão um longo e doloroso episódio da História já
relegado ao passado. E a guerra mundial, também prevista em Fátima em
nexo com a expansão comunista, não se realizará. Pois o Sr. Gorbachev é
um dos grandes agentes mundiais da paz.
"Em conseqüência, Fátima é igual a zero".
Todo esse raciocínio é vão. Ele se baseia na idéia falsa de que o
comunismo é algo de co-idêntico com o capitalismo de Estado. De onde a
infundada afirmação de que, destruído este, desaparece aquele.
Na realidade, segundo a doutrina comunista, o capitalismo de Estado não
é senão uma etapa na evolução histórica rumo ao comunismo integral, no
qual a autogestão em todo os níveis da sociedade tornará desnecessária a
própria existência do Estado. É o que diz o Programa do Partido
Comunista da União Soviética, em sua nova redação aprovada em 1º de
março de 1986 (já na era Gorbachev): "O comunismo significa a
transformação do sistema de autogestão socialista do povo, da democracia
socialista, na forma superior de organização da sociedade, a autogestão
comunista da sociedade. À medida que forem amadurecendo as premissas
sócio-econômicas e ideológicas necessárias, que todos os cidadãos foram
incorporados na gestão, o Estado socialista, conforme assinalou Lênin,
irá tornando-se, em medida cada vez maior, existindo as respectivas
condições internacionais, forma transitória do Estado para o não-Estado.
A atividade dos órgãos estatais irá adquirir um caráter não-político e
gradualmente desaparecerá a necessidade do Estado como instituto
político especial" (Edições da Agência de Imprensa Nóvosti, Moscou,
1986, p. 27).
Este é o verdadeiro sentido da demolição do capitalismo de Estado,
promovido pelo Sr. Gorbachev. Este mesmo o tem afirmado em várias
declarações largamente divulgadas pela imprensa, e no próprio livro
"Perestroika" (cfr. Harper and Row, Nova York, 1987, pp. 36-37).
A autogestão, para a qual vai caminhando o comunismo, não é senão um
comunismo de micro-sociedades, que se tornarão cada vez mais numerosas,
à medida que forem minguando as macro-cidades.
Tudo isso pode fazer sorrir ao leitor que imaginará ver em minhas
palavras um arranjo, talvez hábil, para "salvar" a mensagem de Fátima.
No entanto, é precisamente isto que eu previ, com base nos
acontecimentos políticos da época, quando publiquei a mais recente
edição de "Revolução e Contra-Revolução". Estávamos no ano
de 1976, e o Sr. Giovanni Cantoni, com quem eu mantinha relações de
amizade ainda recentes, teve a gentileza de me pedir um prefácio para a
edição dessa minha obra em língua italiana. Essa edição seria lançada
pela Alleanza Cattolica que aquele meu amigo brilhantemente preside. Em
lugar do prefácio, enviei a Giovanni Cantoni uma parte nova de
"Revolução e Contra Revolução" – a terceira – para sua edição, o que ele
gentilmente aceitou. Basta ao leitor destas linhas consultar as páginas
175 e 190 do livro italiano. Ou, então, as páginas 64 e 71 da edição
brasileira consecutiva à edição italiana:
"O sucesso dos costumeiros métodos da III Revolução [o comunismo]
está comprometido pelo surgimento de circunstâncias psicológicas
desfavoráveis, as quais se acentuaram fortemente ao longo dos últimos
vinte anos. – Tais circunstâncias forçarão o comunismo a optar, daqui
por diante, pela aventura?" (p. 64).
"Como
é bem sabido, nem Marx, nem a generalidade de seus mais notórios
sequazes, tanto “ortodoxos" como “heterodoxos" viram na ditadura do
proletariado o lance terminal do processo revolucionário. Esta não é,
segundo eles, senão o aspecto mais quintessenciado, dinâmico, da
Revolução universal. E, na mitologia evolucionista inerente ao
pensamento de Marx e de seus seguidores, assim como a evolução se
desenvolverá ao infinito no suceder dos séculos, assim também a
Revolução não terá termo. Da I Revolução já nasceram duas outras. A
terceira, por sua vez, gerará mais uma. E daí por diante...
"É
impossível prever, dentro da perspectiva marxista, como seria uma
Revolução n.º XX ou L. Não é impossível, entretanto, prever como será a
IV Revolução. Essa previsão, os próprios marxistas a fizeram.
"Ela deverá ser a derrocada da ditadura do proletariado em
conseqüência de uma nova crise, por força da qual o Estado hipertrofiado
será vitima de sua própria hipertrofia. E desaparecerá, dando origem a
um estado de coisas cientificista e cooperativista, no qual – dizem os
comunistas – o homem terá alcançado um grau de liberdade, igualdade e
fraternidade até aqui insuspeitável" (p. 71).
A Rússia continua a caminhar, pois, nas vias de seu erro. Pior: ela o
vai requintando, e a mensagem de Fátima não está desmentida, mas pelo
contrário confirmada.
Pois o new look gorbacheviano da perestroika está penetrando na simpatia
dos burgueses do mundo inteiro, muito mais do que o conseguira o
comunismo.
Em conseqüência, os atuais acontecimentos no leste poderiam ser vistos
como o triste resultado da invalidade da consagração feita por João
Paulo II, a julgar segundo os que tenham tal consagração por inválida.
– (Desdobramento da pergunta 4) o Sr. considera esta consagração válida?
Eng. Antonio Augusto Borelli Machado –
O Bispo de Leiria-Fátima, D. Alberto Cosme do Amaral, admite que a
consagração feita por João Paulo II preencheu as condições impostas por
Nossa Senhora (é obviamente neste sentido que a palavra "válida" é
tomada na pergunta), porque, se bem que não tenha havido uma "totalidade
matemática" de Bispos que se uniram ao ato do Santo Padre, houve –
segundo ele – uma "totalidade moral".
Consta-nos, efetivamente, por relatórios colhidos aqui e acolá, que
houve uma adesão expressiva de alguns episcopados à consagração feita
por João Paulo II. Em que medida isto se passou com todos os episcopados
do mundo? Não sabemos. Mas no que se refere ao Brasil, não nos consta
que a consagração tenha sido feita senão por uns pouquíssimos Bispos,
contáveis nos dedos da mão. Ou foi tão discreta, por parte de alguns
mais, que não chegou ao conhecimento do público. Ora, o Episcopado
brasileiro é o terceiro maior do mundo; e o Brasil é o país com o maior
número de dioceses (233 em 1983).
Assim, a declaração do venerável Bispo de Leiria-Fátima, a respeito de
uma "totalidade moral", não nos persuade. Em todo caso, se ele fala em
tal, é porque deve possuir dados concretos, e nessa matéria ninguém deve
estar mais bem informado que Sua Exa. Seria muito confortador para os
fiéis do mundo inteiro e para os devotos de Fátima em particular, que
esses dados fossem divulgados.
Por outro lado, no que se refere à intenção de João Paulo II de
consagrar o mundo, "com menção especial pela Rússia" – conforme pedido
por Nossa Senhora – é bem sabido que esta nação não consta da fórmula da
consagração. Mas o Pontífice incluiu vários circunlóquios que podem ser
vistos como alusões indiretas. Assim, diz ele: "De modo especial Vos
entregamos e consagramos aqueles homens e aquelas nações (grifo do
original) que desta entrega têm mais necessidade". E mais adiante: "A
força desta consagração (grifo do original) permanece por todos os
tempos e abarca todos os homens, os povos e as nações".
Sentindo, talvez, que estas alusões não eram bastante explícitas, o
Santo Padre intercalou, na última hora (a frase não consta da fórmula
enviada aos Bispos), a seguinte imprecação: "Mãe da Igreja! (...)
Iluminai especialmente os povos dos quais esperais a nossa consagração e
a nossa entrega" (cfr. "L’Osservatore Romano", 26/27-3-84).
Dir-se-ia que, na ânsia de chegar o mais perto possível da fórmula
pedida por Nossa Senhora, o Pontífice foi tão longe quanto lhe permitiam
os condicionamentos da Ostpolitik vaticana. Pois é bem de supor que uma
menção nominal da Rússia desagradaria os déspotas do Kremlin.
Então o problema se desloca: quando Nossa Senhora pediu uma "menção
especial pela Rússia", isto significa que Ela exigia uma menção nominal,
ou se contentava com alusões mais ou menos claras e indiretas?
Cabe lembrar que na Carta Apostólica Sacro Vergente Anno, de 7 de
julho de 1952, Pio XII consagrou ao Imaculado Coração de Maria os povos
da Rússia. Com o que esse Pontífice parece ter entendido – como sempre
se entendera até agora – que era preciso uma menção nominal.
Pelo que fica dito e em vista dos dados de que temos conhecimento, nossa
tendência é achar que a consagração feita por João Paulo II também não
preencheu os requisitas estipulados por Nossa Senhora em Fátima. Porém,
não nos cabe destrinchar uma questão cuja elucidação compete mais bem
aos Pastores, teólogos e historiadores da Igreja e, evidentemente, mais
do que a ninguém, ao próprio Pontífice.
30 Giorni – A Irmã Lúcia teria dito que a consagração foi feita. O Sr.
pensa que se trata de uma manipulação de suas palavras?
Eng. AABM –
A simples hipótese de que as palavras da Irmã Lúcia estejam sendo
manipuladas – por quem? – arrepia os ouvidos pios, pelo menos deste lado
do Atlântico.
Temos realmente conhecimento de que a Irmã Lúcia passou a considerar
"válida" (sempre no sentido de que preenche os requisitos postos por
Nossa Senhora) a consagração feita por João Paulo II em Roma, no dia 25
de março de 1984. Mais ainda, estamos informados de que vem sendo
divulgado o texto facsimilar de uma carta dirigida a uma amiga
particular, na qual ela analisa as várias consagrações feitas
anteriormente pelos Pontífices (inclusive a de João Paulo II em Fátima,
em 13 de maio de 1982), que, em contraposição, ela considera
"inválidas".
Sabemos que há quem conteste a autenticidade dessa carta, cujo estilo
parece fugir ao habitual da Irmã Lúcia.
Evidentemente, não temos condições de esclarecer esse imbróglio.
O que nos parece estranho é que, em se tratando de um assunto de tal
magnitude, e estando a vidente ainda viva e gozando de boa saúde, não se
lhe peça uma declaração com todas as garantias de autenticidade. Seria a
maneira mais direta de acabar com qualquer manipulação, se é que ela
existe.
É claro que a Irmã Lúcia, pelo simples fato de ter sido uma das
privilegiadas videntes de Fátima, não goza do carisma da infalibilidade
na interpretação da altíssima mensagem que recebeu. Por isso caberia,
mais uma vez, aos historiadores, teólogos e Pastores da Igreja analisar
a coerência desta nova eventual declaração da Irmã Lúcia com suas
declarações anteriores.
Uma palavra direta da Irmã Lúcia pareceria, pois, mais do que nunca
oportuna.
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Texto de “30 Giorni” (publicado em seu número de março de 1990)
Na variegada galáxia que reporta a Fátima, existem também grupos que
fizeram dessa mensagem o estandarte de seu anticomunismo. É o caso das
TFP (Sociedade de defesa da tradição, família, propriedade), um
movimento extremamente conhecido e difundido (23 mil membros) no Brasil,
presente na cena pública há várias décadas. E que agora está se
propagando por muitas nações do continente latino-americano. Além de
suas enérgicas campanhas contra a reforma agrária ou a introdução do
divórcio, a notoriedade deste grupo está ligada às procissões públicas
organizadas por ocasião do dia 13 de maio, aos desfiles com trajes da
"ordem dos templários" pelas ruas das cidades ao nicho existente no
exterior da sede de São Paulo onde, diante de uma imagem de Nossa
Senhora de Fátima, se revezam em turnos de 24 horas militantes das TFP
para recitar o rosário. Uma imagem muito discutida. Embora nunca tenha
recebido censuras eclesiásticas, numerosíssimas são as criticas
dirigidas às TFP pelo episcopado brasileiro, e na Venezuela o governo
ordenou de fato sua dissolução por um certo período. O fundador é Plinio
Corrêa de Oliveira, 81 anos, ex-deputado e professor universitário. As
mudanças na Rússia? De Oliveira não tem dúvidas: "A Rússia continua a
caminhar nas vias do seu erro – explica – e ainda por cima vai o
requintando. - O "new look" gorbacheviano da perestroika está penetrando
nas simpatias dos burgueses do mundo inteiro mais do que teria podido
fazer o comunismo. Em conseqüência, os atuais acontecimentos no Leste
poderiam ser vistos como triste resultado da invalidade da consagração
feita por João Paulo II, segundo o juízo daqueles que a consideram
inválida".
Em suma, o problema da validade da consagração da Rússia ao Coração
Imaculado de Maria é um pouco a pedra de escândalo de toda discussão
sobre o assunto.
*
* *
Carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a "30 Giorni"
Sr. Redator de "30 Giorni"
No nº de março, em que essa revista trata do interessante tema "Milagre
no Leste? E a Virgem prometeu...", encontro, na p. 11, várias afirmações
a respeito da TFP. Pedem elas importantes retificações, que solicito
sejam publicadas integralmente no próximo número de "30 Giorni".
30G: 1. "TFP (...) um movimento extremamente conhecido e difundido (...)
no Brasil (...). E que agora se está propagando em muitas nações do
continente latino-americano ".
TFP:
Há TFPs em todos os países da América do Sul, na América Central, nos
Estados Unidos e no Canadá. Ademais há TFPs ou Bureaux TFPs em Portugal,
Espanha, França, Alemanha, Itália, África do Sul, Austrália e Nova
Zelândia. E estão em formação TFPs em mais dois países, que é prudente
não mencionar ainda.
30G: 2. "A notoriedade deste grupo está ligada às procissões públicas
organizadas por ocasião do dia 13 de maio, aos desfiles com trajes da
"ordem dos templários" pelas ruas das cidades".
TFP:
"Nenhuma TFP realiza procissões, no sentido canônico do termo, mas
apenas desfiles de caráter cívico ou, sobretudo, campanhas de venda em
público, dos impressos por elas editados. É absolutamente inverídico que
em qualquer das TFPs os respectivos membros usam hábitos da "ordem dos
templários".
30G: 3. "...no nicho existente na parte externa da sede de São Paulo
onde, diante de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, se revezam em
turnos de 24 horas militantes da TFP para recitar o rosário. "
TFP:
Na cidade de São Paulo (Brasil), existe um oratório de Nossa Senhora,
dando diretamente para a rua. A imagem aí exposta à veneração dos fiéis
não é de Nossa Senhora de Fátima, mas de Nossa Senhora da Imaculada
Conceição.
30G: 4. "Uma imagem muito discutida. Embora nunca tenha recebido
censuras eclesiásticas, numerosíssimas são as críticas dirigidas à TFP
pelo episcopado brasileiro".
TFP:
O Brasil tem atualmente 375 Bispos, e não foram muitos os que se
pronunciaram, de forma aliás isolada, contra a TFP. Houve um Bispo do
Nordeste que o fez pelo rádio usando até palavras baixas (possuímos a
gravação). Quanto aos pronunciamentos coletivos, houve alguns, em
relação aos quais a entidade se defendeu publicamente, sempre em termos
respeitosos. É portanto exagerado dizer que são "numerosíssimas" as
críticas que recebeu por parte do episcopado brasileiro. Tais críticas
versam quase todas sobre desacordos em matérias sócio-econômicas.
30G: 5. "Na Venezuela o governo tinha de fato ordenado sua dissolução
por um certo período ".
TFP:
O fechamento da TFP venezuelana se deu em 1984, sendo Presidente daquele
país o Sr. Lusinchi, atualmente processado por corrupção ante o Poder
Legislativo do país. Uma decisão da Suprema Corte daquela República, em
data de 15 de maio de 1986, declarou que não havia nenhuma ilegalidade
nos atos atribuídos à TFP que serviriam de base para o decreto do
governo Lusinchi.
Atenciosamente
Plinio Corrêa de Oliveira
Presidente do Conselho Nacional

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