Revista "Catolicismo", março de
1987, nº 435 (www.catolicismo.com.br)
Moral cristã,
salvaguarda contra a expansão da AIDS
Plinio Corrêa
de Oliveira
A "Folha de S. Paulo", em sua edição de 21-2-87,
formulou ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a seguinte pergunta: "Você
acha que o enfoque moral é adequado para combater a AIDS?" A essa questão,
o Presidente do Conselho Nacional da TFP respondeu da seguinte forma:
Sem dúvida, em nosso País já
tão perigosamente atingido pela expansão da Aids, é preponderante o fator
moral, como coercitivo do terrível mal.
Com efeito, sabe-se que o
principal foco do contágio dessa doença está nos ambientes homossexuais. Mas
também os bissexuais contagiam a Aids, e isto não só nas relações com o próprio
sexo, como ainda com o sexo feminino (aliás mais resistente ao contágio do que
o masculino).
Esses são os dois grandes
"grupos de risco" para a propagação da Aids. Há um terceiro
"grupo de risco", constituído pelas pessoas sujeitas a freqüentes
transfusões de sangue, como os hemofílicos, certos anêmicos etc. Constituem
eles vítimas inocentes do cruel contágio, em razão do pouco cuidado com que
seja eventualmente selecionado pelos técnicos o sangue que recebam. Com efeito,
pode suceder lhes seja assim ministrado sangue contaminado de Aids...
Quanto a cada um desses três
"grupos de risco", o enfoque moral segundo os princípios da Igreja,
em nosso País graças a Deus católico, é de molde a exercer a mais valiosa
influência. Pois, segundo é geralmente sabido, o ato homossexual é qualificado
pela Igreja como "pecado contra a natureza", e catalogado entre os
pecados que bradam ao céu e clamam a Deus por vingança. O que lhe revela toda a
gravidade.
Ora, a não ser um freio moral
de tanto alcance, não sei verdadeiramente como coibir de modo eficaz a
homossexualidade, e portanto a expansão da Aids. O que é mais digno de nota
tomando-se em consideração a tendência por assim dizer suicida, já vitoriosa em
diversos países, e em franca ascensão em outros, a não qualificar a
homossexualidade como crime.
Poder-se-ia objetar que o
próprio surgimento da ameaça da Aids exerce efeito inigualável para a repressão
da homossexualidade. E que, reprimida esta, o perigo da Aids estaria extinto. A
expansão da Aids constituiria portanto um perigo autodemolidor: o próprio
pânico da terrível doença levaria os homens a evitá-la, abstendo-se do ato
contra a natureza.
Sem contestar certo efeito
salutar do perigo da Aids como fator coercitivo da homossexualidade, cumpre
notar que tal valor tem algo de relativo. Pois depende do próprio viciado
escolher entre as duas perspectivas difíceis que se lhe abrem: a dura batalha
para a extinção do vício, ou a permanência nesse vício, embora sob o terrível
risco do contágio mortal. Ora, está na psicologia de incontáveis viciados
optarem pela via do vício, que lhes agrada a moleza e as apetências
desordenadas.
Pelo contrário, o católico,
posto ante tal alternativa não se considera livre de escolher entre uma e outra
via: sabe que lhe cumpre tão-só obedecer à vontade de Deus. Obedecer, sim, pelo
amor e pela submissão que a este deve. Mas também pelo justo temor de que a mão
de Deus o castigue duramente com as penas eternas do inferno. E, bem entendido,
com proporcionados castigos nesta vida. Destes, um dos mais terríveis é a
caminhada inexorável do portador de Aids, através dos mais devastadores
procedimentos, rumo à morte.
Resta dizer uma palavra sobre o desleixo e a incúria responsáveis pela
transmissão da Aids nas transfusões de sangue. O prejuízo sofrido pelas vítimas
inocentes, em razão dessas faltas profissionais, qualifica de muito grave o
pecado dos responsáveis. E a justiça de Deus pode se desfechar sobre eles com
todo o rigor, ainda quando consigam ardilosamente tornar despercebido o seu
crime ante a justiça dos homens. O que constitui para o católico motivação de
inigualável importância para que não se deixe arrastar, pela negligência ou
pela precipitação, a uma transgressão contra o 5º Mandamento: "Não
matarás".
Nesse caso, como em tantos
outros, só mesmo a moral especificamente religiosa constitui para o homem o
parapeito salvador que o protege contra as múltiplas propensões internas para o
mal.