Plinio Corrêa de Oliveira
A cidade medieval e a cidade moderna
Catolicismo, N° 546 - Junho de 1996 |
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Quando nas iluminuras medievais consideramos uma cidade vista de longe, ela se apresenta de modo inteiramente diferente da cidade moderna.
A cidade moderna é de contornos imprecisos, irregulares, é como um tumor que se vai estendendo de lá para cá e para acolá, de maneira tal que numa certa direção ela cresceu muito, e noutra existem ainda parques que vão quase até o seu centro. A cidade medieval nos dá impressão de uma moeda bem cunhada. Ela está repleta de casas, num recinto delimitado por um muro e realçado por torres. O limite é definido e claro: para além do muro, campo; para dentro do muro, cidade. O muro é o resplendor da cidade, que tem em torno de si uma coroa feita de muralhas, assegurando-lhe a possibilidade de se defender por si própria e de manter sua autonomia. Vista assim em seu conjunto, a cidade dá a impressão de uma caixa de tesouros. Porque o que emerge de dentro dela são coisas preciosas: as torres das igrejas, as pontas das catedrais com as rosáceas e os vitrais, as torres de um ou outro palácio, etc. Dir-se-ia que entre suas torres havia uma espécie de competição para atingir o céu. As ruas não correspondiam muito às idéias do urbanismo moderno. Eram sinuosas, caprichosas, inesperadas, com peculiaridades singulares. As casas não tinham numeração. Nada de anúncios imorais, ou de algo que pudesse ir contra os bons costumes.
Essas ruelas estão para os quarteirões de nossos dias, quadrados e cortados em ângulo reto, mais ou menos como a caligrafia está para a datilografia: a letra datilográfica é irrepreensível; a letra manuscrita muitas vezes é irregular, e até feia, mas tem a expressão de uma alma. Esses quadriláteros urbanos, o que exprimem? As almas dos homens sem alma... Nota da Redação: texto sem revisão do autor. |