Plinio Corrêa de Oliveira
Massacre dos inocentes
Catolicismo, N° 654 - Junho de 2005 (*) |
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É de autoria do célebre pintor italiano medieval Giotto este afresco, representando o Massacre dos Inocentes. Encontra-se na famosa Capela degli Scrovegni, em Pádua, tendo sido pintado entre 1302 e 1306. Herodes, Tetrarca da Galiléia, mandou matar todos os meninos com idade inferior a dois anos, por ocasião do nascimento de nosso Redentor, porque os Reis Magos ingenuamente procuraram essa autoridade política e perguntaram-lhe se ouvira falar do Rei dos Judeus, que havia nascido. Herodes julgou que dois soberanos não caberiam no mesmo Estado. Portanto, era necessário eliminar esse menino. Mandou procurá-lo, e não o encontrou. Ordenou então aquela matança dos inocentes. Foram esses os primeiros mártires da Igreja Católica. Por que mártires? Por uma razão muito simples: foram mortos por ódio à fé, por ódio a Deus, por ódio ao Menino que lhes dera a honra de terem nascido aproximadamente na mesma data em que Ele veio ao mundo. Assassinados dessa forma, foram para o Céu como mártires. São eles os Santos Inocentes. Quando os anjos apareceram na noite de Natal, proclamaram: “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens de boa vontade”. Mas os primeiros atos que se desenrolam a partir dessa data cheia de luz, repleta de bênção e de paz, são também carregados de ameaças para o futuro. O que parece, para um espírito superficial, estar em contradição com o conteúdo da frase “Paz na Terra aos homens de boa vontade”. Porque tem-se a impressão de que os homens de boa vontade não sofreriam nem perseguições nem teriam que lutar. Dentre os pais e mães de tais crianças, que figuram no afresco de Giotto, provavelmente alguns seriam homens de boa vontade. Entretanto, o que lhes ocorreu? O morticínio de seus filhos. Uma coisa imensamente trágica, portanto. Numa espécie de tribuna figura Herodes ordenando o massacre. Notam-se os algozes, os executores, que estão procurando pessoas enquanto estas tentam se esquivar. Num primeiro plano, observa-se uma mulher que evidentemente não quer entregar o filho. Mais adiante percebem-se cenas de agitação e de violência. A cena é dramática, e ao mesmo tempo admirável. Alguém poderá perguntar: “Eles não são batizados?” Resposta: Eles foram batizados no próprio sangue, agraciados pelo chamado batismo de sangue. E são, pois, tanto quanto se possa calcular, os primeiros cristãos falecidos em decorrência dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, pouco tempo após seu nascimento. (*) Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plinio, em 30 de novembro de 1988. Sem revisão do autor. |