Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Dom Duarte Leopoldo e Silva:

insegurança controlada com que, dominando-se, dominava os outros

 

 

 

Catolicismo, N° 688 - Abril de 2008 (*)

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Dom Duarte Leopoldo e Silva nasceu em Taubaté (SP) em 4 de abril de 1867. Fez seus estudos de humanidades na capital paulista, matriculando-se aos 18 anos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Não prosseguiu o seu curso médico, voltando para São Paulo, onde ingressou no Seminário Episcopal. Em junho de 1893, foi nomeado coadjutor na cidade de Jaú (SP); em 1894, vigário da nova paróquia de Santa Cecília em São Paulo. Em 9 de novembro de 1903, foi eleito bispo de Curitiba, sagrado em Roma em 22 de maio de 1904. Em 18 de dezembro de 1906, em virtude de decreto de São Pio X, foi transferido para São Paulo e eleito arcebispo metropolitano, cargo que exerceu de 1907 até seu falecimento em 1939.

Entrei para o movimento católico em 1928, e o velho arcebispo de São Paulo era Dom Duarte. Ele tinha muito do que os franceses chamam de physique du rôle. Quer dizer, representava muito bem o papel do verdadeiro arcebispo.

O monumento que há no largo de Santa Cecília (na capital paulista) nem de longe dá ideia do que ele foi, e o mesmo se dá com as fotografias que conheço dele.

Era magro, alto, branco, sem ter uma pele demasiadamente clara. Cabelo abundante, grisalho, sempre penteado com muito cuidado. Cabelos brancos, mas os fios pretos deixavam reminiscências. Sobrancelhas não definidas, olhos castanho escuro de tamanho comum.

O rosto, que parecia ter sido sugado por uma força de síntese de caráter ascético, era como que encolhido em si mesmo: seco, um tanto rígido, concentrado em si, discretamente audacioso. Pescoço um pouco alto. Nariz pequeno, que se projetava ousadamente para a frente, mas sem ser saliente.

Mãos singulares porque, sem serem esqueléticas, deixavam perceber os ossos. Dedos longos, afilados, sem nada característico de aristocrata ou de plebeu.

Usando sempre a batina de arcebispo, com todos os frisos roxos, faixa roxa, cruz peitoral, anel episcopal, um bonito camafeu representando Nossa Senhora, meias roxas, sapatos de verniz com fivelas de prata, como usavam os bispos naquele tempo. 

Deixei para o fim o mais característico: sua voz. Era uma voz feia, ligeiramente em falsete, descambando facilmente para o fino. Parecia nascer de profundidades dos pulmões, mas por isso mesmo era muito interessante.

Ele tinha um senso de autoridade muito aguçado e comportava-se frente aos acontecimentos de modo paradoxal: com uma espécie de insegurança controlada, estável e dominadora. Percebia-se que, no fundo, era muito vibrátil, mas tinha aprendido a se dominar completamente. E dominando-se, dominava os outros. Dominava por força do princípio que representava e do carisma que tinha como arcebispo. Mas dominava também porque era dotado do poder de aplicar sanções. Facilmente sabia castigar e colocar mal-à-vontade quem se erguesse contra ele.

As invectivas mais ameaçadoras dele — e, num certo sentido da palavra, mais nobres — eram feitas quando a voz soava fino. Em vez de desfalecimento da voz, era um controle de si mesmo. E isto ficava-lhe bem. 


(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio em 28 de março de 1981. Sem revisão do autor.


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