Plinio Corrêa de Oliveira
Churchill o carroceiro e o duque
Catolicismo, N° 786, Junho 2016 (*) |
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Personagem com uma cabeça coruscante: Churchill. Uma ordem de grandeza humana autêntica, homem que tinha não sei quanto de história atrás de si. Ele possuía também, amalgamado, algo de carroceiro ao lado do duque inglês; era um gênio, no qual coexistia o carroceiro e o duque. Ele apresentava, ao chupar aquele charuto, certos ares próprios de quem começou fabricando cabos de vassoura, ou coisa do gênero, com aquele jeito de bebezão mal humorado no qual se percebia o plebeu. Mas, por outro lado, apresentava certas atitudes mediante as quais o nobre aparecia de corpo inteiro.
Vendo uma revista com várias fotografias dele, percebi esse jeito. Numa delas, Churchill encontra-se sentado junto com Roosevelt e Stalin. Roosevelt no meio, como um burguês de boa família que ele era, bem tratado, fino, despretensioso. Na foto, à esquerda, Stalin. Um homem de botequim, ordinário, todo vestido de traje novo, mas não habituado a se vestir assim. Sobretudo, não habituado a roupas limpas, uma coisa repugnante; a fera em dia de circo, o bigode saltado, um ar de quem diz: “hoje eu te pego para te matar, ou para te roubar”, todo vaidoso com a farda nova. À direita, Churchill, que arranjou um jeito de sentar-se de modo a parecer como se não estivesse no grupo. Stalin e Roosevelt formam um grupo. Churchill está completamente alheio, até olhando para a máquina fotográfica, mas como um homem que estivesse sentado em sua cadeira na Câmara dos Lordes e pensativo. De maneira tal, que entre ele e os outros há uma distância invisível e enorme, pela qual se percebe o lorde e o gênio. Isto porque seus olhos estão coruscando de inteligência, ao lado do olhar opaco e moderado de Roosevelt e do olhar vagabundo de Stalin. Churchill, naquela circunstância, sendo politicamente o mais fraco dos três, entretanto, ao mesmo tempo, o maior dos três, pois sabia enfrentar a situação. Mais fraco como Chefe de Estado, superior como capacidade humana, tradição e tudo mais. (*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio em 15 de junho de 1973. Sem revisão do autor. |