Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Luís Grignion de Montfort: amplitude do auxílio de Nossa Senhora aos que sabem invocá-La

 

"Santo do Dia" de 21 de outubro de 1971

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

 

[Vamos ler] um comentário de São Luís Grignion que se encontra na “Carta Circular aos Associados da Companhia de Maria”, extraído diretamente de suas obras completas.

Aqui os senhores podem ver a amplitude do auxílio de Nossa Senhora para aqueles que sabem de fato implorá-La:

 

Eu sou a vossa proteção e a vossa defesa...

 

É uma introdução, pequena, comentada.

 

... ó pequena companhia...

 

“Companhia” os senhores sabem o que quer dizer na linguagem de São Luís Maria Grignion de Monfort, ou seja batalhão.

 

"... disse o Padre eterno. Eu vos tenho gravado em meu Coração, em minhas mãos, para vos amar e vos defender, porque vós pusestes vossa confiança em Mim, e não nos homens, na Providência e não no ouro".

 

Quer dizer, o pensamento muito bonito aqui é o seguinte: aqueles que se dão inteiramente a Deus Nosso Senhor, os que se dão a Deus por meio de Maria, eles têm o nome deles gravado no Coração e nas mãos do próprio Deus.

“No Coração” é um símbolo, quer dizer, o nome gravado no Amor do próprio Deus. “Nas mãos”, que dizer, na operosidade da Providência. A Providência que atua e encaminha os acontecimentos.

 

* O índio na menina dos olhos da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe: exemplo da amplitude da proteção dEla

Nós temos uma ilustração muito bonita disso no quadro representando Nossa Senhora de Guadalupe.

Como os senhores sabem, recentemente, fotografias tiradas do quadro, verificou-se que na menina dos olhos da imagem, estava o índio para quem Ela apareceu. Quer dizer, está na própria menina do olhos. É um modo de Nossa Senhora exprimir a mesma coisa. É um carinho singular que Ela tem para com aqueles que A servem, e que podem ser fustigados por essas ou aquelas tempestades: são sempre levados a bom termo pela Providência Divina.

 

Eu vos libertarei de ciladas que vos fazem, das calúnias que são levantadas contra vós.

 

Os senhores vêem como, portanto, é próprio aos verdadeiros filhos de Nossa Senhora, em todos os tempos, sofrer ciladas e calúnias.

 

Eu vos livrarei dos terrores da noite, e das trevas que vos metem medo.

 

O que são os terrores da noite? Não são só os fantasmas, os medos que as pessoas podem ter durante a noite, mas são os terrores que aparecem aos homens nas situações obscuras e tenebrosas da vida. Nas quadras difíceis da existência, em que o homem não sabe como agir, ele se vê como que numa noite cheia de terrores. E então, Deus diz, e Nossa Senhora que é a Medianeira de Deus, diz também que "nos livrará dos terrores da noite". Quer dizer, nos auxiliará nas trevas de que possamos estar circundados.

 

* Nossa Senhora nos livrará dos assaltos do “demônio do meio-dia”, que é o demônio da idade madura

 

Eu vos livrarei dos assaltos do demônio do meio-dia que vos quer seduzir.

 

Ao que parece esse “demônio do meio-dia”, é o demônio da idade madura. É o demônio a que estão sujeitos os homens quando eles chegam à idade em que eles se perguntam: "O que é que eu fiz na vida? Que carreira eu segui? Que grau eu ocupei? A que cargo eu cheguei? Que dinheiro eu economizei? Que prestígio eu granjeei?"

E vendo que não granjearam o que queriam, embora às vezes tenham granjeado muito, eles então resolvem vender-se.

Esta forma de tentação é chamado o “demônio do meio-dia”. Porque o homem está no meio-dia de sua vida, está no pináculo de sua vida, naquela hora em que vai caminhando para o seu declínio, que a tarde começa e que ele então faz um retrospecto do que foi toda a sua manhã, para perguntar o que fez, o que colheu.

Preocupação que não se põe de modo tão aflitivo - é certo - aos vinte anos, como aos trinta; nem tão aflitiva aos trinta quanto aos quarenta. E que parece que chega ao seu zênite entre os quarenta e os sessenta. É a era em que o homem procura consolidar-se, em que o homem se torna venal. Provavelmente Judas Iscariotes encontrou-se com o “demônio do meio-dia” quando resolveu vender a Nosso Senhor.

 

* Nossa Senhora cobrirá com seu afeto aqueles que forem perseguidos pela ação do demônio e seus sequazes por amor ao nome de dEla

 

Eu vos esconderei sob as minhas próprias asas.

 

Esta é aquela palavra linda, de Nosso Senhor a respeito de Jerusalém. Quando Ele diz: "Jerusalém, Jerusalém, se tu tivesse conhecido Aquele que poderia te dar a paz. Quantas vezes Eu quis reunir-te sob as minhas asas como a galinha faz com os pintainhos. Mas tu não conhecestes a paz, etc."

Assim também, diz aqui: "Eu te reunirei debaixo das minhas asas. Eu te cobrirei com o meu afeto", diz Nossa Senhora àqueles que forem perseguidos pela ação do demônio e dos sequazes do demônio por amor ao nome dEla.

Adiante explicarei aos senhores a importância que tem o ser perseguido por amor ao nome dEla.

 

Eu vos carregarei nos meus próprios ombros.

 

É uma referência à parábola do Bom Pastor, que toma a ovelha doente, e a carrega nos próprios ombros com todo o afeto.

 

Eu vos nutrirei no meu próprio seio.

 

Quer dizer, a Providência fará conosco o que a mãe faz com o seu filhinho, o que Nossa Senhora fez com o Menino Jesus, assim Ela nos trata a nós perseguidos por amor a Ela.

 

Eu vos armarei com a minha verdade e tão poderosamente, que vós vereis os vossos inimigos cair aos milhares ao vosso lado. Mil maus pobres à vossa esquerda, dez mil maus ricos à vossa direita, sem que a minha vingança sequer se aproxime de vós.

 

* O justo perseguido por amor a Nossa Senhora verá caírem, de um lado e do outro, os inimigos dEla

 

A metáfora é linda. É o justo perseguido por amor a Nossa Senhora, que caminha. Ele verá caírem de um lado e do outro os inimigos dEla, e a vingança de Deus a ele não atingirá. À esquerda dele, cairão mil maus pobres; à direita dele cairão dez mil maus ricos. Mas ele nem de longe será atingido.

Por que esses mil maus pobres e esses dez mil maus ricos? Em primeiro lugar, é preciso que os senhores notem quantos inimigos tem o justo. Ele olha para a esquerda, ele tem mil homens, e isso numa época em que a população do Globo era muito menor, hein!

Porque são todas frases bíblicas. Mil homens era um exército, dez mil era uma coisa que metia medo.

Do outro lado, ele tem dez mil maus ricos. Quer dizer, está assediado de maus por todos os lados. Cercaram-no para liquidá-lo. Mas põe a sua confiança em Nossa Senhora, e nada lhe sucede.

Por que de um lado os pobres são mil, e os maus ricos são dez mil? Ele mostra aí que o bem não é ser pobre, nem ser rico. O mau não é ser pobre, nem ser rico. [O importante] é ser bom ou ser ruim. Ele tem de um lado ricos, de outro lado pobres; uns e outros são ruins. Mas como o rico é mais poderoso do que o pobre, corresponde a uma manifestação maior do poder de Deus liquidar um número maior de ricos.

 

Vós caminhareis com coragem sobre a áspide e o basilisco, invejoso e caluniador.

 

Áspide é uma forma de cobra. E basilisco é um animal mitológico. Então, são a áspide – deve ser a invejosa – e o basilisco – deve ser o caluniador. Quer dizer, "vós caminhareis sobre os invejosos e os caluniadores. E nada vos acontecerá".

São animais bravios. Caminhar sobre cobras não é nada prudente, é perigoso; caminhar sobre basilisco, animal mitológico, deve ser uma coisa horrorosa. Mas nada acontecerá. Serão todos calcados aos pés.

 

* A vida da Igreja não teria nenhuma beleza, nem nenhum mérito, se muitas vezes os bons não tivessem sofrido

 

Vós calcareis aos pés o leão e o dragão ímpio, arrogante e orgulhoso. Eu vos ouvirei nas vossas orações, Eu vos acompanharei nos vossos sofrimentos. Eu vos livrarei de todos os males, e Eu vos glorificarei com toda a minha glória.

 

Os senhores vejam que beleza. Quer dizer, nesta batalha - notem bem – o justo sofre, não é que ele não sofre. Diz aqui:

 

Eu vos acompanharei nos vossos sofrimentos.

 

O justo pode sofrer, e quantas vezes tem sofrido! Mas a vida da Igreja não teria nenhuma beleza, nem nenhum mérito, se muitas vezes os bons não tivessem sofrido. Depois diz:

 

Eu vos livrarei de vossos males.

 

Portanto tereis os males. Os bons vão ter males, mas serão libertos dos males que tiverem; deverão passar por fases cruciais, enfrentar coisas terríveis, mas devem ser libertos. A Providência intervirá a favor deles. E a promessa linda:

 

Eu vos glorificarei com toda a minha glória, que eu vos mostrarei no meu reino descoberto, depois que Eu vos tenha enchido de dias e de bênçãos nesta Terra.

 

Isso é uma majestade de Deus providíssima.

Naturalmente, Ele não diz aí o seguinte: que todo o mundo que é bom, vive muito tempo. Mas Ele diz uma outra coisa: que aqueles que segundo o desígnio dEle devem viver muito tempo, Ele não permitirá aos maus que matem. Ele só permitirá que eles cumpram os seus dias na Terra. Os maus só matarão aquele que estiver nos desígnios de Deus, de permitir que morram numa determinada ocasião, como uma doença poderia matar, um desastre, ou qualquer outra coisa que pudesse matar.

Bem, eles, nesta Terra, serão acumulados de dias e de bênçãos. E depois no Céu, eles serão glorificados com toda a glória de Deus.

Os senhores vêem que prêmio magnífico. Para quem? Isto não é para qualquer perseguido, mas para quem é perseguido por amor a Deus! Quer dizer, nós precisamos notar bem o que é ser um perseguido por amor a Deus. É perseguido por amor a Deus aquele que é odiado pelas qualidades que tem, e que tem essas qualidades para servir a Deus. São duas coisas que é preciso considerar.

Quer dizer, vamos tomar um pai de família solícito, entretanto ateu… o que pode acontecer. Vem um bandido qualquer e implica com sua solicitude e o assassina. Comete, portanto, um homicídio, um crime abominável.

Mas esse homem não tem a glória de quem é perseguido por amor a Deus. É perseguido pelo amor a Deus aquele homem que tinha esta virtude por amor a Deus. E quem o mata, ou persegue, ou calunia, ou qualquer coisa, sabendo que ele estava praticando a virtude, por causa da virtude que ele pratica e sabendo que ele pratica aquela virtude por amor a Deus. Esta é a condição para a gente ser perseguido por amor a Deus.

Qual é o mérito especial que se tem de ser perseguido por amor a Deus?

Ser perseguido por amor a Deus é uma das bem-aventuranças que estão no Evangelho. É uma bem-aventurança pelo seguinte: aquele que é perseguido por amor a Deus, recebe de Deus uma espécie de delegação, uma espécie de representação ou de mandato. Ele é um procurador de Deus diante dos homens. E sendo odiado por amor a Deus, é Deus que odeiam nele. E sendo ele odiado por amor a Deus, Deus contrai uma espécie de união com ele. Contrai uma espécie de ligação com ele que é uma prova de que Deus o amava, e é uma prova de que Deus o quer amar ainda mais. Deus o chama para junto de Si, e o quer cumular de provas de Seu afeto e de Seu carinho, precisamente nessas circunstâncias. Porque fizeram-no sofrer por amor a Ele.

Dou aos senhores outro exemplo terreno e os senhores podem compreender bem.

Os senhores imaginem um rei que é duramente insultado por um cavaleiro de um reino vizinho. O rei dirá: "Eu lutar com um simples cavaleiro de um reino, não é uma coisa que tenha propósito, eu sou rei. Eu luto com outro rei, não luto contra um cavaleiro, com um simples cavaleiro; mas, de outro lado, a minha honra não pode deixar de ser desagravada desse ultraje. Então eu nomeio alguém para lutar contra aquele". Esse alguém vai lá e luta. Não foi uma prova de afeto do rei ter nomeado esse sujeito para a luta? Por que? Porque o rei quis sentir-se representado por aquele, quis incumbir aquele da função digna, gloriosa, de defender a honra real.

Sempre que alguém ataca aos bons por suas qualidades, ainda que se tenha defeitos, é a Deus que ele está atacando.

Nosso Senhor disse isso expressamente: "Aquilo que fizerem ao menor dentre de vós, a Mim mesmo o tereis feito".

O que vale para esmola como vale para ultraje. E se Ele quis, portanto, permitiu que nós, no cumprimento do dever, fôssemos atacados por ódio a Ele, somos como aquele cavaleiro que Ele constitui como representante dEle. Agüentando aquela perseguição, agüentando a calúnia, agüentando a injúria, nós agüentamos em nome dEle e somos representantes dEle, somos como Anjos representando Deus na Terra. Quer dizer, é uma missão lindíssima e que nos reveste de toda a glória. Deus se faz assim representar freqüentemente na Terra.

Notem que Nosso Senhor disse que no juízo final Ele vai julgar os homens assim: "Eu estive nu, e vós não Me vestistes; Eu estive encarcerado e vós não Me visitastes; Eu tinha fome e vós não Me destes de comer; Eu tinha sede e vós não Me destes de beber. Ide agora malditos!"

Quer dizer, Ele estava na pessoa de todos os aflitos e de todos os necessitados, e aos que não socorreram os aflitos e os necessitados [dirá]: "Ide agora malditos para o fogo do eterno!"

Quer dizer, Ele mesmo Se fez representar nessas circunstâncias. Quanto mais os que sofrem de aflição por causa dEle, de necessidade por causa dEle.

Se é verdade que Christianus alter Christi, o cristão crucificado é um outro Cristo Crucificado. E São Paulo Apóstolo dizia que ele não sabia pregar a não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo Crucificado.

De maneira que nós devemos pedir a Nossa Senhora que Ela nos torne dignos de, por nossa oração, por nossa firmeza, enfrentar essa fúria. Que Ela afaste de nós a provação e a perseguição, mas que se estiver no desígnio dEla que nós enfrentemos isso durante algum tempo, que Ela nos dê a confiança imperturbável de que de quaisquer cinzas, renascerá a TFP para a glória dEla.


 

Esta conferência se insere em um conjunto de comentários sobre a devoção a Nossa Senhora, conforme o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Sugerimos a nossos visitantes a leitura dos já publicados, a saber:

- Fazer todas as coisas “com Maria, em Maria e por Maria”

- Viver em Maria: comentários aos tópicos 262 e 263

- Fazer todas as ações em Maria: comentários ao tópico 261

 

 

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