Plinio Corrêa de Oliveira
Nossa Senhora Refúgio dos pecadores, Consoladora dos aflitos e Auxílio dos Cristãos
Santo do Dia, 5 de setembro de 1970 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério
tradicional da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Eu não poderia deixar que a noite se passasse sem uma palavra que diga respeito à piedade. Para que essa palavra tenha verdadeira consonância com a atual situação, gostaria que os senhores soubessem relacionar três invocações da Ladainha Lauretana. Nossa Senhora é, ao mesmo tempo, o “Refúgio dos pecadores”, a “Consoladora dos aflitos” e “Auxílio dos cristãos”.
Nossa Senhora Refúgio dos pecadores (capela da Bem-aventurada Ana Maria Taigi, na igreja de São Crisógono, em Roma. Foto de Kenneth Joseph Drake) “Refúgio dos pecadores”: Ela é o refúgio perene, contínuo, que jamais se fecha para toda a espécie de pecadores, sejam eles quais forem. Quer dizer, não é um refúgio para alguns pecadores, não é um refúgio para os que tenham cometido pecados leves, não é propriamente isto. Está na grandeza de Nossa Senhora, o ser refúgio, um imenso refúgio, um perfeito refúgio. Porque tudo quanto Ela é, tudo quanto Ela tem é perfeito, admirável, extraordinário, excede à nossa capacidade de cogitação. E um refúgio é tanto maior quanto mais contém coisas grandes e quanto mais é capaz de dar uma proteção grande a coisas grandes. Por exemplo, um porto é um refúgio: refúgio contra o mar alto. Um navio que entra num porto entra num refúgio. Diz-se que esse refúgio é tanto maior e tanto mais esplêndido quanto mais navios cabem nele. Os senhores imaginem um portinho qualquer, no qual podem atracar 10 navios... É um lugarzinho geográfico, não se dá nenhuma atenção. Os senhores imaginem, por exemplo, uma enseada como a do Rio de Janeiro, em que eu não sei quantas esquadras poderiam entrar e sentirem-se completamente protegidas contra o mar alto. Os senhores vêm, ali, uma grandeza, uma magnificência, um esplendor! Nossa Senhora é assim. Ela pode refugiar pecados de um tamanho inimaginável, pode refugiar ingratidões inconcebíveis, insondáveis; desde que a alma se volte para Ela, Ela cobre tudo, Ela protege tudo, Ela aceita de dar toda a espécie de perdão para toda a espécie de coisas. Ela, portanto, é o refúgio por excelência. Se temos alguma coisa a lamentar em nossas vidas, devemos dizer: “Vós sois o Refúgio dos pecadores. E está na Vossa grandeza, ó minha Mãe, tomar os meus pecados e os meus defeitos e abrirdes, para eles, como um porto, e defender-me do mar alto das interiores das minhas desordens, das consequências exteriores das minhas desordens. Está em Vossa grandeza ter pena de mim. Vossa grandeza é também a grandeza de Vossa misericórdia: Vós tereis pena de mim e Vós me acolhereis”. Devemos pedir isto também para o Brasil, para a Argentina, para todos os outros povos em que tantos pecados coletivos, de todo tamanho, foram cometidos. Devemos pedir a Nossa Senhora que permita, pelo Seu perdão, que esses povos sejam, durante os castigos previstos em Fátima, o que deveriam ser se tivessem sido sempre fiéis. A hora das tormentas é a hora da graça. A hora da flagelação é a hora penitência. “Consolatrix afflictorum”: “Consolare”: consolar não é apenas enxugar o pranto de quem chora; é muito mais do que isso: é dar força, dar ânimo, dar decisão! Nossa Senhora é a decisão dos aflitos. O homem que fica aflito facilmente se acabrunha e se acabrunha exageradamente, perde a coragem, se entrega. Nossa Senhora consola quando chega uma pessoa aflita e lhe diz no fundo de sua alma: “Meu Filho, ânimo! Eu te dou, com essa graça, a capacidade de lutar. Enfrente o adversário! Tudo é reparável. No Céu serão pagos os seus sofrimentos; será recompensado, em glória, tudo quanto você tiver que carregar nos ombros. Agora vamos. Coragem e ande para frente!” Isto é, propriamente, a consolação.
Nossa Senhora de Covadonga na Gruta de Covadonga (Espanha) Nossa Senhora, em Covadonga, foi uma consolatrix no sentido verdadeiro da palavra. O povo visigótico, repudiado e expulso, escorraçado como um rebanho de poltrões, chega até Covadonga. Lá, eles resistem: receberam uma consolatrix, quer dizer, uma fortificação. Eles passaram a ser outros homens. Nossa Senhora dá isso aos aflitos, àqueles exatamente que estão precisando de força para lutar. Aqui está o pedido a Nossa Senhora como nossa Consoladora: que Ela nos dê força, que Ela nos dê firmeza, que Ela nos dê decisão, que Ela nos dê coragem. Consolatrix tem também este sentido corrente de diminuir uma dor, de enxugar as lágrimas. E é um sentido secundário, mas preciso. Estou longe de dizer a Nossa Senhora que também este favor eu não quero d’Ela...! Porque nós, dEla, queremos todos os graus, formas, meios e favores, em todos os tempos e circunstâncias possíveis. E que Ela também nos dê isto. Mas que nos conceda o que talvez mais precisamos e que não é secar nossas lágrimas, mas nos dar coragem, nos dar decisão.
Imagem de Nossa Senhora Auxiliadora na homônima igreja construída por São João Bosco em Turim “Auxilium christianorum”: Nossa Senhora é o “Auxílio dos cristãos”. Notem bem: “dos cristãos”, quer dizer, mais do que de quaisquer outros homens, dos verdadeiros cristãos que são os católicos. Porque o único cristão em estado de saúde, é o católico; o protestante, o cismático, são cristãos em estado enfermiço, em estado de degenerescência. Os católicos somos os cristãos no sentido não enfermiço da palavra. Dentro da Igreja como Ela é hoje, há os que são verdadeiramente ortodoxos, e entre estes estão os da TFP. Quanto mais se é ortodoxo, mais se tem o auxilio de Nossa Senhora. Então devemos pedir a Ela que, pelo menos pelo fato de que temos tido fidelidade de preservar a verdadeira fé Católica, Apostólica, Romana, que ao menos por isso Nossa Senhora tenha pena de nós e que Ela seja o nosso auxílio, que Ela faça por nós aquilo que não seríamos capazes de fazer quando se apresentam essas grandes dificuldades que a gente não sabe como se sair de dentro delas. Às vezes, pessoas me perguntam: o que fazer agora? Eu não vou dar sempre o mesmo conselho, mas a resposta que eu gostaria de dizer é a seguinte: Rezar! primeira coisa, diretamente: rezar! Reze, faça uma jaculatória ao menos, no momento. Antes de orgulhosamente, “megamente” estar pensando em seu próprio intelecto, peça auxílio, imediatamente, “tout court”, puro e simples. Uma jaculatória interior: Auxilium Christianorum, ora pro me; ora pro nobis. E acabou-se! Pedir auxílio em todas as circunstâncias, em todas as situações: esta é nossa obrigação. E, com isto, resolveremos dificuldades muito maiores do que pensamos. Leão XIII escreveu, em uma de suas Encíclicas dele, uma frase que espero nunca me esquecer na vida: quem verdadeiramente governa o mundo não são os homens inteligentes, nem os homens poderosos, nem os homens ativos: são os homens que rezam. Quer dizer, a oração é o cetro do mundo. Sobretudo os que são escravos de Nossa Senhora e que têm certeza de que Ela reza com eles, esses têm o cetro do mundo. Porque Nossa Senhora, de Si, não pode nada, mas a oração d’Ela é tão grata a Deus, que Deus faz tudo quanto Ela quer. Por causa disto, alguns teólogos A têm chamado muito adequadamente de “Onipotência Suplicante”, ou seja, Aquela que, por Suas súplicas, é todo poderosa. Então, devemos pedir a Ela. E podemos tudo quanto quisermos: é pedir a Ela. Sempre que se fala em sofrimento, as pessoas ficam apavoradas porque ninguém gosta de sofrer e o sofrimento não foi feito para ser gostoso. Mas se uma pessoa, um grupo ou um país sofre auxiliado por Nossa Senhora, sofre menos do que um gozador da vida que é desamparado por Ela. Não sei se este pensamento está claro. Se eu não fui claro, queiram levantar o braço. O que eu digo é o seguinte: tome uma pessoa católica que sofra muito, mas a quem Nossa Senhora auxilia. Essa pessoa sofre menos do que sofre um gozador da vida sem o amparo de Nossa Senhora. O Santo Cura d’Ars dizia muito adequadamente o seguinte: “A vida, para gozador da vida, é como um manto de arminho forrado de espinhos”. Os senhores sabem que o arminho é uma pele muito delicada, muito macia, muito agradável ao tato; mas se forrada de espinhos... Quem vê de fora pode pensar: “Que esplendido manto de arminho esse homem leva nos nas costas”. Mas quem vê por dentro, considera os espinhos arranhando as costas daquele homem. Esses tipos pseudo felizes que andam por aí sofrem assim. Recentemente, vinha descendo pela rua Itacolomi de automóvel e, de repente, vejo um senhor do meu tempo. Era o tipo do homem que parecia feliz sob todos os pontos de vista: muito rico, de umas das melhores famílias de São Paulo, muito bem apessoado, completamente despreocupado de tudo e que tinha absolutamente tudo quanto queria ter. Eu o vi com uma cara inteiramente vazia e pensei com meus botões: “ele é tão feliz que só lhe falta uma coisa: ele se suicidar”. Dias depois, notícia: “Fulano suicidou-se”. Assim!... Essa é a “felicidade” dos gozadores da vida que vivem desajudados de Nossa Senhora! E Santo Cura d’Ars dizia: “O manto daquele que vive sofrendo por Nossa Senhora, é como um manto de espinhos forrado de arminho”. Ou seja, não é que não se sofra, porque a gente sofre muito; mas há, dentro da alma, uma consonância com o sofrimento, uma resolução do sofrer e um alento espiritual dentro do sofrimento, uma noção do sentido da vida, do rumo, de que as coisas estão andando como devem, que são como devem, que é uma coisa que não há nada do mundo que possa pagar... |