Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Soldado escocês:

 

no combate, a plenitude de viver

 

"Catolicismo", N° 591 - Março de 2000 (*)

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O soldado que se vê na fotografia é um tocador de gaita de fole, provavelmente da Guarda escocesa.

Ele certamente usa uma saia chamada kilt e meias compridas, que se podem ver na fotografia abaixo. Veste também um paletó azul-marinho com galões prateados, de maneira que o traje parece um pouco singular para olhos brasileiros. O desenho do tecido e as cores do kilt variam de acordo com o clan a que pertence a pessoa.

O soldado deve ter mais ou menos uns 50 anos. Alegre, otimista, dir-se-ia quase um meninão de jeito travesso e saudável.

Para se compreender essa vestimenta, convém lembrar que ela é um uniforme caracteristicamente regional. Nasceu em função de circunstâncias locais e apresenta, à primeira vista, uma certa nota de extravagância que todos os usos e costumes, acentuadamente regionais, costumam ter.

Assim, são modos de ser que se explicam bem dentro de um certo panorama, mas que em outras circunstâncias ficam completamente fora do lugar.

Esse tocador de gaita de fole deve ser visto em seu ambiente: a Escócia brumosa, montanhosa, do whisky, com suas tradições que ainda contêm importantes restos da Civilização Cristã.

*     *     *

É neste ambiente – no qual a guerra se travava num clima de proeza e de façanha – que os homens combatiam. E alguns, como esse soldado, tocavam maravilhosamente as suas gaitas de fole, soprando com vigor, a fim de estimular os outros a irem para a frente...

Por outro lado, nota-se nele uma espécie de otimismo. É o otimismo da pessoa que julga que não vai suceder nada na guerra?  Não! Por mais incrível que pareça, essa disposição de arrostar o perigo – uma atitude vivencial – é um resquício de Fé existente em sua alma.

O que está expresso no rosto dele é o seguinte: “Combater é uma grande coisa. O homem alcança uma forma de plenitude quando ele é um herói e expõe a vida por uma Causa. Ainda que seja para ficar cego, estropiado, paralítico e passar a vida inteira numa cadeira de rodas ou morrer – ele se realiza”.

Não é, pois, a atitude daquele que ignora o perigo, mas a do homem que caminha rumo a este. E, para ele, tal atitude é mais importante do que levar uma vida cômoda, possuir um automóvel, gozar boa saúde etc. Ele marcha para a frente com  resolução. Para esse soldado escocês, a guerra, a luta: a vida é isso!

Estou explicitando essa atitude de alma em termos laicos. Mas os escoceses chegaram a ter de modo completo tal equilíbrio mental e emocional, numa época em que se tinha Fé. Em que a Fé explicava cabalmente essa posição de alma e oferecia fundamento a ela.

Poder-se-ia perguntar: mas se Deus não existe – conforme propugna certa concepção laicista de vida –, morrer ou ficar estropiado não é a maior das idiotices?

Posto o absurdo – Deus não existir, a Religião Católica não ser verdadeira –, as atitudes mais díspares são, ao mesmo tempo, as mais razoáveis e as mais estúpidas.

Fundamento do verdadeiro heroísmo: a Fé

Mas Deus existe. E se enfrentamos todos os perigos por amor a Deus, à Causa católica, à Pátria – porque estando o próprio País empenhado na guerra deve-se defender sua nação, isso é uma virtude católica – então, que beleza e que magnífica realização! Nessas condições, é fácil ir para a frente... e quem se expõe, se realiza. Compreende-se, em vista disso, a intrepidez em face do adversário, do perigo, porque a morte no combate equivale a um holocausto prestado a Deus Nosso Senhor.

Se o raciocínio ficou claro, explica-se, desse modo, a razão de se utilizar os elementos da tradição para formar uma verdadeira idéia do que é a Igreja Católica. Porque, embora esse homem possa não ser católico, sua atitude ainda é decorrente dos ensinamentos da Santa Igreja, que séculos de Civilização Cristã geraram.

Fica aí um comentário vivo do heroísmo, que muitos livros de leitura espiritual não proporcionam a seus leitores.

(*) Excertos de conferência de 5 de fevereiro de 1969. Sem revisão do autor.


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