Plinio Corrêa de Oliveira
Chenonceaux, o Castelo-cisne
Catolicismo, N° 602 - Março 2001 (*) |
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A impressão que o castelo de Chenonceaux causa, à primeira vista, é de entusiasmo! Qual é a razão pela qual ele produz esse sentimento? Imaginemos que fosse um castelo construído em terra, e que, em vez de correr um rio debaixo dele, passasse uma estrada poeirenta comum, permitindo o trânsito de carroças, automóveis, etc., etc. Não é verdade que o castelo perderia pelo menos cinqüenta por cento de seu encanto? Com isso, fica claro o que seu construtor explorou para produzir essa sensação de inebriamento. Foi uma obra baseada no seguinte princípio: todas as coisas que se refletem na água ganham em beleza. Tem-se uma sensação paradisíaca vendo as águas do rio fluírem tão plácidas, marcadas pelo azul do céu, e o castelo que nelas se reflete reproduzindo a imagem de si mesmo. Vê-se que a maior beleza do castelo consiste na concretização dessa idéia originalíssima de construir uma parte dele sobre uma ponte. E isso de maneira tal, que ele, por assim dizer, parece um cisne em cima da água. Esse é um castelo-cisne. Ele flutua sobre a água como se fosse uma fantasia, uma coisa irreal, um sonho!
Por outro lado, quanta harmonia foi posta, segundo o espírito francês, nessa portentosa obra de arquitetura. O castelo é constituído por três elementos distintos. O primeiro deles é a ponte com os seus arcos, em cima da qual se construiu a ala mais leve do edifício. O segundo elemento é o corpo central do castelo. E por último, à esquerda, um torreão - que deve ser o que restou de uma velha fortaleza medieval - sólido, atarracado, grande, e que produz a sensação de estabilidade, ao último grau. Chama a atenção o contraste entre os arcos da ponte, tão diáfanos e leves, e a base pesada da parte central. Esse misto de firmeza, de estabilidade e delicadeza forma um contraste harmônico de qualidades opostas, que acentua a sedução inerente a essa parte do edifício. São os três elementos sucessivos que dão encanto ao castelo e explicam sua beleza. Ao fundo, nota-se um jardim esplêndido. Um quadrilátero apresenta desenhos e vegetação lindíssimos, com aquela grama esmeraldina da Europa que aqui não se conhece. Tal jardim é arranjado e "penteado" de tal maneira, que não o pode ser mais. Para compensar o extremo do arranjado, há ao seu lado uma arborização "despenteada", puramente silvestre, que completa plenamente o panorama. Em outros termos, tudo o que parece espontâneo foi estudado com uma sagacidade extraordinária, para provocar um efeito de conjunto. Mas com tal perfeição, que a noção de harmonia nasce sem que a maior parte das pessoas consiga explicitá-la. O sumo da harmonia consiste exatamente em que não se possa precisar, à primeira vista, no que ela consiste, exigindo muita atenção para a definir... (*) Excertos de conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, em 2 de janeiro de 1969. Sem revisão do autor. |