Plinio Corrêa de Oliveira
Virgo Potens
“Maio mês das flores… Belo mês de Maria”, Edição da Rádio Bandeirantes, São Paulo, pags. 95-98, s/d mas pelo contexto entre 1938-1944 |
|
Imagem milagrosa de Nossa Senhora do Bom Sucesso, Quito (Equador) Graças a Deus, cria raízes cada vez mais profundas entre os católicos brasileiros a convicção de que os destinos da humanidade contemporânea estão indissoluvelmente ligados à Igreja, de tal sorte que o único modo eficiente de trabalhar para a solução da crise tremenda em que nosso século se debate é trabalhar pela expansão da doutrina católica. A História registra o caso de nações que conseguiram firmar seus alicerces sobre base outra que não a Igreja e que conheceram sobre essas bases um relativo equilíbrio. Tal foi o Egito, tal foi a Índia, tais foram a China, o Japão, Grécia e Roma. Mas, enquanto esse equilíbrio falso se transformou no Oriente em estagnação letal, na Grécia e em Roma mostrou-se tão precário que provocou as revoluções sociais, a corrupção moral e por fim o desabamento da civilização greco-romana, humilhada nos seus últimos estertores pela vitória brutal das hordas dos bárbaros invasores. Quanto à civilização ocidental, nascida da Igreja, criada sob o influxo da Igreja, e constituída para a realização de um ideal de perfeição e de progresso que só a Igreja soube apontar ao homem, não lhe é possível encontrar fora da Igreja nem sequer o equilíbrio precário das civilizações que a antecederam. A civilização europeia e católica foi inspirada no Cristo, e sua aurora na Idade Média refulgia com algo daquela insuperável majestade e daquela indescritível doçura com que o Cristo deslumbrou seus Apóstolos no alto do Tabor. No recesso de sua prodigiosa fecundidade, continha ela os germes de um arcabouço moral e material superior em grandeza e magnificência às concepções mais ousadas dos filósofos gregos, dos estadistas romanos e dos poetas orientais. E está na inexorável ordem das coisas que, se essa civilização eleita não perseverasse na sublimidade de sua vocação, despencaria pelos abismos insondáveis e diabólicos da apostasia, cujos frutos políticos e sociais são essas duas irmãs gêmeas tão diversas mas tão parecidas: a anarquia e a escravidão. Para o mundo contemporâneo, não há outro caminho senão a ordem perfeita do Catolicismo, ou o caos completo da aniquilação. Não é, pois, sem angústia que até mesmo alguns espíritos, nos quais não arde a Fé católica, indagam se a Igreja não soçobrará ao vendaval da crise moderna. E houve até quem oferecesse recentemente, com suprema demência, como escora para a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo batida hoje pela tempestade, uma outra cruz que não é do Redentor (refere-se à suástica, n.d.c.), e na qual se suplicia agora uma grande e gloriosa nação (a Alemanha, n.d.c.). É para estas almas cegas que a invocação da ladainha lauretana “Virgo Potens” constitui tema de uma proveitosa meditação. Não é das baionetas pagãs, nem do ouro (...), nem de qualquer outro recurso humano que a Igreja espera o grande triunfo que salvará mais uma vez a civilização. A Igreja é divinamente indestrutível e se-lo-á amanhã, como já o era ontem. É só de Deus, Nosso Senhor, que lhe virão no momento oportuno os milagres que asseguraram o triunfo de Constantino, o recuo de Átila e a derrota dos muçulmanos em Lepanto. Diz a Sagrada Liturgia de Maria Santíssima: “Só tu esmagastes todas as heresias”. Mais forte do que a Terceira Internacional, mais possante que os modernos Césares, [...] há uma Virgem Poderosa que esmagará o mal em nossos dias. Ela que já esmagou outrora a cabeça orgulhosa da terrível serpente. Sua força, já o dissemos, não está no ouro nem nos canhões. Sua força está na sua caridade que é invencível, na sua humildade que é incomensurável, na sua pureza que é indizível. Conjuguem-se embora contra a infalível Cátedra de São Pedro, o demônio, o mundo e a carne, a Virgem Potente triunfará. E, no momento da derrota, todo o ouro dos seus adversários ser-lhes-á inútil como se fosse lama, seus canhões inoperantes como se fossem brinquedos. Ao ouvir estas palavras, é possível que um sorriso desdenhoso exprima em certos lábios céticos uma desaprovação irritada. Um dia virá porém – e quem sabe se não é amanhã – em que a Virgem Potente triunfará suscitando uma nova legião de cruzados, ou dando ao Papa a vitória incruenta e gloriosa que teve outro Papa, São Leão I, quando, armado só com a Cruz de Cristo, fez recuar o terrível rei dos unos. Não, a despeito do riso dos céticos, das injúrias dos perversos e da incredulidade dos medrosos, é a Virgo Potens que vencerá! |