Carta do ilustre canonista Pe.
Anastasio Gutiérrez, C.M.F.
a respeito de Revolução e
Contra-Revolução
Li com sumo interesse, com sumo
prazer e com sumo proveito a obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no
exemplar castelhano a mim dedicado com expressões de grande afeto e simpatia,
que agradeço quanto merecem.
Revolução e
Contra-Revolução é uma obra magistral, cujos ensinamentos deveriam ser difundidos até
fazê-los penetrar na consciência de todos os que se sintam verdadeiramente
católicos, eu diria mais, de todos os homens de boa vontade. Nela, estes
últimos aprenderiam que a única salvação está em Jesus Cristo e na sua Igreja,
e os primeiros se sentiriam confirmados e robustecidos em sua fé, e prevenidos
e imunizados psicologicamente e espiritualmente contra um processo astuto que
se serve de muitos deles como inocentes-úteis companheiros-de-viagem.
A análise que faz do processo
revolucionário é impressionante e reveladora por seu realismo e pelo profundo
conhecimento da História, a partir do fim da Idade Média em decadência, que
prepara o clima ao Renascimento paganizante e à Pseudo-Reforma, e esta para a
terrível Revolução Francesa e, pouco depois, ao Comunismo ateu.
Tal análise histórica não é
apenas externa, mas é também explicada e revelada em suas ações e reações com
os elementos que a psicologia humana proporciona, tanto a psicologia individual
como a psicologia coletiva das massas. Contudo, é preciso reconhecer que há
alguém a dirigir essa descristianização de fundo e sistemática. É verdade, sem dúvida,
que o homem tende ao mal — orgulho e sensualidade —; mas se não houvesse quem
tomasse em mãos as rédeas dessas tendências desordenadas e as coordenasse
sagazmente, não dariam provavelmente o resultado de uma ação tão constante,
hábil e sistemática, mantida tenazmente, aproveitando inclusive os altos e
baixos provocados pelas resistências e pela natural «reação» das forças
contrárias.
A obra prevê também, ainda que
com cautela em seus prognósticos e por via de hipóteses, a possível evolução
próxima da ação revolucionária e depois, por sua vez, a da ação
contra-revolucionária.
Abundam pensamentos e
observações perspicazes de caráter sociológico, político, psicológico,
evolutivo... semeados ao longo de todo o livro, dignos, não poucos, de uma
antologia. Muitos deles apontam as «táticas» inteligentes que favorecem a
Revolução e as que podem ou devem ser utilizadas no âmbito de uma «estratégia»
geral contra-revolucionária.
Em suma, atrever-me-ia a dizer
que é uma obra profética no melhor sentido da palavra; mais ainda, que seu
conteúdo deveria ensinar-se nos centros superiores da Igreja, para que ao menos
as classes de elite tomem consciência clara de uma realidade esmagadora, da
qual — acredito — não se tem clara consciência. Isso, entre outras coisas, contribuiria
para revelar e desmascarar os inocentes-úteis companheiros-de-viagem, entre os
quais se encontram muitos eclesiásticos que fazem, de um modo suicida, o jogo
do inimigo: esse setor de idiotas aliados da Revolução desapareceria em boa
medida.(...)
Na segunda Parte se expõe muito
bem a natureza da Contra-Revolução e a tática corajosa e «agressiva» que é
preciso adotar, evitando excessos e atitudes impróprias ou imprudentes.
Ante tais realidades, fica-se
em dúvida se na Igreja há uma verdadeira «estrategia», como existe na
Revolução; encontram-se, sim, muitos elementos, ações, instituições...
«táticas»; mas parece que agem isolados e às vezes com espírito de campanário e
de contra-altar, sem consciência de conjunto. O conceito e a consciência de
atuar uma Contra-Revolução poderia unificar e até dar um maior sentido de
colaboração na Igreja.
Não me resta senão
congratular-me com a Instituição TFP por ter um Fundador da altura e qualidade
do Prof. Plinio. Prevejo para a Instituição, e desejo com toda a minha alma um
vasto desenvolvimento e um porvir cheio de êxitos contra-revolucionários.
Concluo dizendo que impressiona
fortemente o espírito com que a obra está escrita: um espírito profundamente
cristão e amante apaixonado da Igreja. A obra é um produto autêntico da
sapientia christiana. Emociona também ver em um leigo ou pessoa secular uma
devoção tão sincera à Mãe de Jesus e ... nossa: sinal claro de predestinação:
«Incertos, como todo o mundo, sobre o dia de amanhã, erguemos em atitude de
prece os nossos olhos até o trono excelso de Maria, Rainha do Universo. ...
Aceite a Virgem, pois, esta homenagem filial, tributo de amor e expressão de
confiança absoluta em seu triunfo» (pp. 137, 139).
Roma, 8 de Setembro de 1993
Festa da
Natividade de Nossa Senhora
Pe. Anastasio Gutiérrez, CMF