Plinio Corrêa de Oliveira
Prússia:
simplicidade, clareza, lógica e heroísmo
Catolicismo, N° 580 - Maio de 1999 (*) |
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Soldados de um regimento prussiano de Infantaria (pintura de Gustav Schwarz, 1840) Como todos os outros povos da Terra, os prussianos apresentam defeitos e qualidades. No prussiano, porém, são grandes os defeitos como também grandes as qualidades. Habitualmente inteligentes, eles primam, entretanto, pela têmpera maravilhosamente forte de sua vontade. Simples, claros, lógicos, de uma lógica fina, desenvolvem retilineamente seus princípios com a fria e implacável regularidade com que as formações germânicas marchavam [na Guerra de 1914-1918] com passos de ganso na Unter den Linden, ou nos campos de batalha da França. A alma prussiana é capaz de chegar com facilidade aos últimos extremos da lógica e do heroísmo, professando uma doutrina até suas últimas conseqüências e cumprindo um dever até as mais implacáveis exigências da Lei moral. Os prussianos são, portanto, admiravelmente aptos para a profissão da Religião católica, que exige a adesão total da inteligência a todas as suas doutrinas. E a todas as deduções que dessas doutrinas se possam tirar, mesmo as mais remotas e indiretas; e que impõem à vontade a prática da virtude, mesmo quando exigem do homem as mais trágicas renúncias, as mais terríveis imolações. O clima da vida cristã é o heroísmo. E é para o heroísmo que a alma prussiana tem uma admirável tendência natural. Os prussianos polarizam, portanto, de um modo notável, alguns dos mais belos predicados com que a Providência Divina galardoou a nação germânica. As melhores tradições de que viveu a Prússia procedem da época saudosa e mil vezes feliz em que a Igreja Católica plasmou o coração inocente e leonino dos povos germânicos, fazendo dos antigos bárbaros os grande heróis da Cavalaria e das Cruzadas. Atletas de corpo hercúleo e cútis clara, de alma forte e de fé virginalmente pura, aos quais a Cristandade deveu na Idade Média muitas de suas mais gloriosas epopéias. * * * “Quanto maior a altura, tanto maior o tombo”, diz um velho adágio. Em conseqüência do pecado original, nas almas de porte existe, ao lado de grandes píncaros, grandes abismos, as tendências para o bem coexistem sempre com não menores tendências para o mal. O povo prussiano não escapou a essa regra. À sombra de suas grandes qualidades dormitavam grandes defeitos. Antes de tudo, a consciência de seu valor gerou nele um complexo de auto-suficiência e até de auto-esoterismo, criando a presunção orgulhosa de tudo fazer pelas suas próprias forças, desprezando a graça de Deus. Em outros tempos, eles teriam tentado construir a Torre de Babel. Ao lado disto, os grandes defeitos, correlatos a suas grandes qualidades. A tendência para um logicismo vazio, simplista e não raramente simplório. Uma ausência total de sentimentos, para a transformação da energia em crueldade selvagem e da disciplina em servidão mecânica e desumana. Infelizmente, quando a Civilização Cristã produzia seus melhores frutos na Alemanha, a pseudo-reforma protestante veio pôr a furo todos estes defeitos. A grande apostasia de Alberto de Brandenburg, Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos – que a secularizou em 1525 -, atirou os povos da região ulteriormente governada pelos Hohenzollern nos braços da heresia . E com a heresia protestante todos os defeitos do espírito prussiano, libertados do jugo suave de Nosso Senhor e da Santa Igreja Católica começaram a produzir seus frutos amargos. A partir dessa época, despontaram duas Alemanhas. A Alemanha católica, impregnada da Civilização Cristã e tendo como pólo a Áustria dos Habsburg; e a Alemanha dos Hohenzollern, férrea, rígida, militarista, imperialista, conquistadora, terrível. Águia cujas garras cresciam de dia a dia, e cujo desenvolvimento psicológico se fazia no sentido de um endeusamento cada vez maior da força material. De uma coisa, porém, não nos devemos esquecer. É que, acima e antes de tudo, é preciso estudar os meios de promover o engrandecimento da Igreja Católica na Prússia. O problema prussiano – evitar novas agressões – exige por certo fortes medidas de caráter político e militar. Mas a solução desse problema só será completa com uma solução ideal, que é a solução de todos os problemas: Nosso Senhor Jesus Cristo. Nota da Redação: Excertos de artigo escrito pelo Prof. Plinio para o jornal “O Legionário”, edição de 6 de maio de 1945. Atualização ortográfica e pequenas adaptações estilísticas são desta redação. |