Plinio Corrêa de Oliveira

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Agro-Reformismo sanguinário

 

"Catolicismo" Nº157 - Janeiro de 1964

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Uma coisa é o problema rural, e outra muito diversa, é a demagogia agrária.

De um e outro assunto tratou com segurança o livro "Reforma Agrária - Questão de Consciência", tão conhecido dos leitores de "Catolicismo". Quanto ao problema rural, ele existe, e para ele há solução judiciosa e eficaz, de acordo com os princípios gerais que aquela obra apresenta. Quanto à demagogia agrária, deve ser combatida energicamente, mostrando-se ao povo que ela é injusta em seus objetivos, cruel em seus métodos, e totalmente sem raízes no ambiente brasileiro.

No que se refere a essa carência de raízes, nada fala melhor do que os resultados das eleições recentemente realizadas em Pernambuco, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

No que toca à injustiça dos objetivos da demagogia agro-reformista, estão os leitores de "Catolicismo" largamente informados, não só por "Reforma Agrária - Questão de Consciência" como por numerosos comentários desta folha.

Bom é que insistamos hoje sobre o caráter cruel dos métodos que o extremismo demagógico preconiza para se levar avante a reforma agrária. Nenhum documento, talvez, seja tão expressivo nesse particular quanto a poesia "Barões da Terra", do Sr. Vinícius de Morais. Recitada em mais de um comício comunista ou comunizante, foi ela também publicada em vários órgãos da imprensa. Transcrevemos alguns de seus tópicos de um hebdomadário... católico que - "horresco referens" a estampou na íntegra com visível comprazimento.

A poesia começa assim:

"Senhores Barões da terra

Preparai vossa mortalha

Porque desfrutais da terra

E a terra é de quem trabalha

Bem como os frutos que encerra

Senhores Barões da terra

Preparai vossa mortalha.

Chegado é o tempo da guerra

Não há santo que vos valha".

Como se vê, a tese contida nestes versos é nitidamente comunista: os donos de terra são usurpadores, pois esta, de direito, não é deles mas dos trabalhadores. É o que afirmou o famoso comunista Proudhon: a propriedade é um roubo. E, por isto, é preciso eliminar os proprietários: "preparai vossa mortalha".

De que forma se fará essa eliminação, segundo os desejos do Sr. Vinicius de Morais, com os aplausos ou as vistas simpáticas de quem lhe publica os brados de ódio?

A resposta é clara: pela revolução social, por uma verdadeira guerra civil:

"Senhores Donos da terra

Juntai vossa rica tralha

Vosso cristal, vossa prata

Luzindo em vossa toalha.

Juntai vossos ricos trapos

Senhores Donos de terra

Que os nossos pobres farrapos

Nossa juta e nossa palha

Vêm vindo pelo caminho

Para manchar vosso linho

Com o barro da nossa guerra:

E a nossa guerra não falha!"

Mas o povo brasileiro é pacífico por índole. A agressão lhe desagrada profundamente. De sorte que o lobo da demagogia agro-reformista veste a pele do cordeiro, por necessidade tática:

"Queremos bonança e paz

Para cuidar da lavoura

Ceifar o capim que dá

Colher o milho que doura".

Se o agro-comunista quer, apesar de tão pacífico, mover uma guerra contra o proprietário, é porque este é um intruso, um usurpador, um ladrão:

"Queremos que a terra possa

Ser tão nossa quanto vossa

Porque a terra não tem dono

Senhores Donos de terra".

Em suma, os proprietários que se tenham por avisados. Se não cederem ante essa gente tão candidamente pacífica, fogo neles:

"Queremos paz, não a guerra

Senhores Donos de terra...

Mas se ouvidos não prestais

Às grandes vozes gerais

Que ecoam de serra em serra

Então vos daremos guerra

Não há santo que vos valha:

Não a foice contra a espada

Não o fogo contra a pedra

Não o fuzil contra a enxada:

- Granada contra granada!

- Metralha contra metralha!

E a nossa guerra é sagrada

A nossa guerra não falha!"

Gente capaz de aplaudir tiradas como esta, existe em todos os tempos e em todos os lugares. Mas é bom que, para honra de nosso povo, se diga que no Brasil - a terra por excelência das revoluções incruentas - esse gênero de gente é particularmente raro. E que a esmagadora maioria dos brasileiros tem a mais profunda e categórica antipatia, ou antes o mais decidido horror às cenas da Revolução Francesa e da revolução russa, em que as divagações do poeta agro-reformista fazem pensar.

Ponha-se qualquer brasileiro típico, ante ameaças como as dessa poesia, ou cenas como as de nossos clichês, e o resultado será uma repulsa categórica.

Feliz nação esta, em que à violência não se pode reagir com mais eficácia do que quando se a põe a nu!

Cena de sangue nos primórdios da Revolução Francesa. Uma vítima, o Intendente Bertier de Sauvigny, é trazido de volta a Paris em meio a uma multidão desvairada, ébria de demagogia, de sangue e de álcool. Um facínora faz ver ao prisioneiro, na ponta de uma lança, a cabeça do sogro deste, o conselheiro de Estado Foulon, em cuja boca foi posto por sarcasmo um punhado de feno. O fato ocorreu em julho de 1789, dias depois da queda da Bastilha.

Os filhos puxam aos pais. A revolução comunista, genuína filha e continuadora da Revolução Francesa, se mostrou tão cruel quanto esta.

No clichê, um grupo de revolucionários russos se faz fotografar, triunfante, junto a um monte de cadáveres de resistentes anticomunistas, que foram obrigados a abrir suas próprias sepulturas antes de morrer.

No Brasil, cenas como estas não dão prestígio...