Plinio Corrêa de Oliveira

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Oriente e Ocidente

Judiciosa interpenetração de valores

 

"Catolicismo" Nº 128 - Agosto de 1961

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Nossos clichês apresentam os quatro filhos do marajá de Kapurthala, no princípio do século. O grupo impressiona agradavelmente, por algo de quinta-essenciadamente nobre, gracioso e delicado que se nota na atitude, na expressão de fisionomia e nos trajes dos principezinhos.

Trata-se de autênticos príncipes, bem autenticamente hindus. Porém, é fácil notar que, sem prejuízo dessa autenticidade, algo de nossa civilização penetrou muito profundamente neles, e na atmosfera em que se acham.

Quando duas grandes civilizações se encontram, o melhor fruto das relações pacíficas que entre elas se devem estabelecer é esse: um intercâmbio de valores feito com discernimento e equilíbrio, de sorte que uma e outra se enriqueçam, e nenhuma perca sua autenticidade. Ao contrário, a pior fórmula é a destruição de uma pela outra.

A Igreja não se identifica com a civilização e cultura de nenhum povo. Está entretanto na índole d’Ela promover a conservação e o incremento de tudo quanto nas mais variadas civilizações e culturas haja de sábio e reto, bem como a eliminação do que nelas haja de falso ou mau. Bem se vê quanto a influência católica tende a promover, pois, aquela judiciosa interpenetração de valores. Quando tal interpenetração se dá sob a égide da igreja, resulta daí uma unidade essencial, mas harmoniosamente variegada, entre as civilizações e culturas. é a essa superior unidade, baseada na Fé, que se chama a civilização cristã.

Se entre os povos do Oriente a ação da Igreja houvesse alcançado sua plena influência, tudo quanto há de típico, de elevado, de reto na civilização e na cultura hindu teria sido conservado. Abusos inomináveis que coexistiam com esses valores autênticos — a idolatria ou a situação miserável dos parias e de tantos trabalhadores, por exemplo — teriam sido eliminados. E teríamos hoje uma Índia bem hindu, bem embebida de sua admirável tradição, mas bem cristã, e favorecida pela aceitação dos melhores valores do Ocidente. Este último, por sua vez, quanto poderia lucrar no contato com uma tal Índia!

Em alguma medida, até a segunda guerra mundial, este escambo de valores se vinha fazendo entre as classes altas da Índia e o Ocidente, e daí se propagaria em seguida, normalmente, para as outras camadas sociais.

Estes pequenos príncipes, que trazem consigo alguma coisa da atmosfera "Mil e uma Noites", mas que já assimilaram algo da delicadeza e da nobreza do "ar de corte" ocidental, são disto uma manifestação característica.

Mas... a Revolução entrou em cena. Como no Ocidente, ela destruiu na Índia as tradições, voltou-se contra tudo quanto era autêntico e orgânico, e, sob pretexto de corrigir abusos, está construindo uma nação cosmopolita, anorgânica, que vai passando da autoridade tantas vezes excessiva dos marajás para o despotismo da máquina, da burocracia e da técnica de propaganda.

Lucrou com isto a Índia? Perdeu? A pergunta daria margem a discussões sem fim, e teria o inconveniente de desviar a atenção para outro problema, imensamente mais interessante: por que não trilhou aquele País o caminho certo, que começara — sob alguns aspectos pelo menos — a seguir?


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