Como se
sabe, o grande Louis Veuillot era de origem muito modesta. Seu nome tinha
sido por ele estilizado, talvez para efeitos literários, mas era na
realidade Veillot, isto é, velhote: o que já por si indica a condição
social humílima de sua gente.
Ora, em
uma página das mais tocantes que produziu, o imortal polemista escreveu
que, se a ordem social se restaurasse em bases católicas, ele não quereria
pertencer às camadas elevadas, mas preferiria ficar na plebe. E isto para
auxiliar a reconstrução de uma plebe digna, cônscia da grandeza da plebe
católica enquanto plebe católica, ciosa de seus direitos e profundamente
imbuída de seus deveres. O contrário, enfim, da plebe neopagã e
revolucionária, que se envergonha de ser plebe, que sonha só com seus
direitos e detesta que se lhe fale de seus deveres, de uma plebe que não
deseja senão imitar a burguesia, enquanto não a derruba. De uma plebe como
existe tipicamente em vários centros industriais do exterior, e como é de
recear que se torne em muitos lugares a nossa, se os filhos da Igreja não
acudirem a tempo com a caridade dos recursos materiais e principalmente
com o dom de princípios claros, vigorosos, autenticamente católicos.
*
* *
A
metamorfose revolucionária da burguesia procede por etapas e já vai longe.
O mesmo se dá com a plebe. E por isto, se talvez ainda são raros os
espécimes de burguês ou plebeu inteiramente revolucionário, são freqüentes
em todas as classes manifestações, ora mais, ora menos profundas, das
idéias e dos estilos da Revolução.
É, pois,
útil, para numerosos leitores, burgueses ou não, conhecer a encarnação de
um tipo plebeu digno, altivo de sua qualidade de criatura humana
incorporada misticamente a Nosso Senhor Jesus Cristo pelo batismo, mas
satisfeito em sua modesta condição.
Camponesa
vestida com decência e sensata simplicidade, na qual se nota uma
compostura que, mais do que no traje, se patenteia no olhar sereno, firme,
profundo, puro e equilibrado até o mais alto grau: seu nome encheu seu
século, perpetuou-se no nosso, e brilhará enquanto o mundo for mundo. No
Céu os Anjos o cantam com louvor. É Bernadette Soubirous, incluída pelo
Santo Padre Pio XI no rol dos Santos! Ela não é burguesa, não quer ser
burguesa, não quer parecer burguesa, e nem quer extinguir a burguesia. Mas
poucas burguesas, poucas Princesas até, têm tanta dignidade e decoro
pessoal.
Eis a
elevação, a glória, a força de uma plebe católica não deformada pelo bafo
da Revolução.
*
* *
O
ambiente em que de preferência a mentalidade revolucionária procura
dominar são os sindicatos. Órgãos cada vez mais poderosos, cada vez mais
influentes, deveriam por isto mesmo ter cada vez mais um ambiente interior
sério, austero, respeitável, à maneira das corporações medievais.
Mas o
espírito de vulgaridade, chalaça, pagodeira, que a Revolução faz soprar em
toda a sociedade contemporânea, não poupou os sindicatos.
Eis uma
cena que está longe de ter este aspecto só nos Estados Unidos, pois é
assim também em outros países.
O que é?
Pelos risos, pelos gestos, pelas atitudes, dir-se-ia um bloco carnavalesco
que ensaia uma saída "solene". Entretanto, é um grupo de operários numa
patuscada com ares burgueses - no pior sentido em que os revolucionários
usam indebitamente o termo - que assinala um acontecimento grave: a
vitória nas eleições para os cargos da diretoria de um sindicato.
Não há
verdadeiro contraste entre um e outro clichê?
Duas
concepções de plebe. Mais. Muito mais. Duas concepções de vida.
|