"Folha de S. Paulo", 25 de abril
de 1980
A ATITUDE DO
EPISCOPADO ANTE AS GREVES
Comunicado
da TFP ao público brasileiro
Tendo em vista, de um lado o
agravamento contínuo da tensão social ocasionada nesta cidade pelos movimentos
grevistas, e – de outro lado – a atitude assumida em face de tal situação
pelas autoridades eclesiásticas locais e pela alta direção da CNBB, a Sociedade
Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP – julga oportuno
comunicar ao público que:
1. Está entre os objetivos
desta entidade cooperar com todas as forças sadias do País para uma ordem
sócio-econômica vivificada pelos princípios cristãos: reconhecimento dos
direitos naturais de todos os homens; salário mínimo, correspondente ao justo
labor efetuado e próprio a assegurar a condigna existência do trabalhador e de
sua família; eventual participação nos lucros das empresas, quando haja mútua
conveniência a juízo de empresários e empregados; inviolabilidade do direito de
propriedade, atendida a função social que incumbe a este como aos demais
direitos humanos; paz nas relações empregador-empregado, baseada na
diferenciação proporcionada e na cooperação harmônica entre as classes sociais.
2. A TFP roga a Nossa Senhora
Aparecida, Padroeira do Brasil, que conceda às partes envolvidas uma solução
conforme a tais princípios, para a atual emergência.
3. Afirmando em tese a
legitimidade do direito de greve quando se configurem situações nas quais os
direitos do empregado de nenhum outro modo possam ser defendidos, a entidade
expressa entretanto sua preocupação – que é também a de incontáveis outros
católicos brasileiros – ao notar que as presentes greves vão tomando aspectos
de ilegalidade e turbulência estranhos à índole ordeira e tranqüila do povo
brasileiro.
4. Sem de nenhum modo
analisar o mérito das posições respectivas de empregadores e empregados na
presente crise, a TFP entretanto registra que tais aspectos constituem sintomas
característicos da participação comunista em acontecimentos do gênero. Por
exemplo, é característico do modo de agir comunista a tentativa que se encontra
no recente comunicado da CNBB – pretendendo falar oficialmente em nome de toda
a Igreja – de transformar a greve dos metalúrgicos, declarada embora com
intuitos circunscritos à classe, em um movimento de todo o operariado nacional
para exigir uma reforma sócio-econômica global.
Tal corresponde à técnica
clássica de Moscou, de tirar partido de tensões sócio-econômicas limitadas,
para preparar a convulsão de todo um país. No caso, a transformação do Brasil
em uma imensa Nicarágua, e, por fim, em uma nação-cárcere como é a infeliz
Cuba.
5. A TFP manifesta sua mais
viva estranheza diante do fato de que as numerosas intervenções das autoridades
eclesiásticas nos acontecimentos que ora se desenrolam, se abstêm de alertar
explícita e eficazmente – como seria de seu grave dever – a parcela descontente
do operariado, para que extirpe do meio de si o joio da presença comunista.
Pois não é possível aceitar como advertências anticomunistas eficazes, uma ou
outra vaga alusão ao perigo de "infiltrações", sem referência
explícita ao comunismo. Ademais, essas autoridades consentem em que numerosos
eclesiásticos façam de sua influência religiosa, bem como do sagrado e
prestigioso recinto de vários templos, um uso contínuo para incentivar
movimento reivindicatório que abarca em uma promíscua efervescência tanto
comunistas quanto brasileiros amigos da ordem e do bom senso.
6. A TFP adverte
especialmente o País para o risco implícito mas evidente de fermentações do
gênero. Como tem ocorrido em outros países, elas caminham para a formação de
uma "frente única" de elementos católicos e comunistas, a qual
constitui parte capital dos planos de Moscou. E, no caso concreto, a ausência
de alusões taxativas ao comunismo não tem outro sentido que não o desejo de
colaborar com ele. Em tais "frentes únicas" se engajam numerosos
"inocentes úteis", transformados depois gradualmente em
"companheiros de viagem" dos subversivos, rumo às reformas sociais
demagógicas e descabeladas, à luta de classes e, por fim, à revolução social.
Vitoriosa esta, os comunistas
aplicam, de costume, seu golpe decisivo: instituem um governo da "frente
única", e vão defenestrando depois os vários "companheiros de
viagem".
Para conhecer o fruto de tudo isto,
basta abrir os jornais destes dias e ler o drama apocalíptico que se desenrola
em Cuba.
7. A TFP considera absolutamente
incompreensível que todos quantos se jactam de autênticos amigos do operariado
não trabalhem empenhadamente para afastar a colaboração tendenciosa dos
comunistas, fazendo ver expressa e corajosamente à Nação que estes últimos,
lançando agora os trabalhadores contra seus atuais patrões, visam sujeitar por
fim o operariado – e a população inteira – ao patrão-Moloch, ao mesmo tempo
legislador despótico juiz parcial e delegado de polícia concentracionário; isto
é, o Estado comunista.
São Paulo, 24 de abril de 1980
Plinio Corrêa de Oliveira – Presidente do
Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade