Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Nossos objetivos

 

 

 

 

Catolicismo, N° 1, janeiro de 1951

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Nota deste site: Artigo não assinado, mas do próprio punho do Prof. Plinio, e cuja minuta foi recentemente localizada (novembro de 2017). Os negritos são nossos.

Em todo grande país, há cidades de dois tipos diversos. Umas vivem, trabalham e palpitam concentradas em si mesmas. Os fatos que nelas ocorrem não excedem em importância a medida pequena dos acontecimentos da vida cotidiana, e sua repercussão não vai além dos limites municipais. São as cidades que desfrutam a modesta e serena ventura de não ter História, e acompanham com olhar distante e indiferente o que se passa nos grandes centros onde se decidem os destinos dos povos e das civilizações. Outras, pelo contrário, se associam intimamente, pelo pensamento e pela ação, a tudo quanto de relevante, de grave, de novo se faz no cenário nacional. O pensamento de seus filhos se abre avidamente para as influências que vem de fora. Sua atitude não se limita a ser receptiva. Suas elites analisam, ponderam, tomam posição, e o seu pronunciamento, ecoando além das fronteiras municipais, repercute por todo o país, contribuindo de maneira eficaz para a determinação de rumos e a escolha de soluções.

Os campistas jamais se contentaram com a existência trivial e plácida das cidades sem História.

A índole ativa de seus filhos impeliu-os sempre a uma vida de trabalho que fez de Campos um dos centros mais dinâmicos da economia nacional. De outro lado, a intensidade de nossa vida intelectual e cívica atraiu constantemente para nós os olhares de todo o Brasil. E, assim, de geração em geração, foi crescendo nosso progresso, do qual podemos enumerar índices dos mais lisonjeiros, no início desta segunda metade do século XX.

Campos é hoje o maior município açucareiro do Brasil, situando-se assim na vanguarda da economia nacional. A facilidade das modernas vias de comunicação lhe proporciona contato fácil e constante com os maiores centros do país. Seus cem mil habitantes, servidos por todos os recursos próprios a uma grande cidade contemporânea, se revelam ávidos de cultura. Temos 5 estabelecimentos de ensino secundário, 3 escolas de comércio, 3 escolas normais. Proporcionalmente ao número dos habitantes nossa imprensa atingiu um desenvolvimento notável, possuindo 6 diários, entre os quais nos apraz destacar um dos decanos da imprensa nacional, o "Monitor Campista", com uma existência já mais do que centenária. A Associação Campista de Letras e a Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia são um expressivo padrão de nosso progresso intelectual. Nossa elite social, constituída de usineiros cultos e viajados, de numerosos advogados que labutam neste grande centro judiciário que é Campos, de engenheiros, de mais de 200 médicos, acompanha com lucidez e carinho a evolução de todas as grandes questões do momento. O senso dos problemas sociais não lhe falta, como atesta o funcionamento de obras tais como a Policlínica, a Maternidade, o Hospital Infantil. Associações pujantes, como a Associação Comercial ou a Associação Campista de Imprensa bem demonstram do que é capaz entre nós o espírito associativo no campo intelectual como no econômico.

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Dom Henrique Cesar Mourão e Dom Octaviano Pereira de Albuquerque, respectivamente o primeiro Bispo de Campos e o segundo a ocupar este cargo 

E no campo eclesiástico?

Temos todos consciência de que ao lado de nossos êxitos intelectuais e econômicos, também podemos mencionar com ufania um título de glória no terreno religioso? Sabemos o que significa, em nossa bela e ampla Catedral, o trono episcopal, já ilustrado pela virtude peregrina de dois Bispos, Dom Henrique Cesar Mourão e Dom Octaviano Pereira de Albuquerque? Sabemos que Campos é a metrópole eclesiástica de uma imensa circunscrição, que abrange um milhão de habitantes e mais de 17.000 km2, ou seja, um terço do Estado do Rio?

Que missão tem a cumprir em Campos a Igreja? Que obrigações resultam para Campos, em face das diversas cidades da Diocese, e de todo o Brasil, das muitas graças espirituais e temporais que recebeu?

A Igreja exerceu uma influência profunda na formação espiritual, cultural e social do povo brasileiro. A Fé Católica é o substractum da alma nacional. Nossos costumes, nossa História, nossas instituições se plasmaram segundo os princípios da civilização cristã. E é o caráter cristão de nossa civilização o maior título de nossa ufania.

Todas estas afirmações, que valem plenamente para o passado, e também — dentro de certa medida — para o presente, devem ser igualmente válidas para o futuro. Cumpre que o desenvolvimento de nossa cultura, a evolução de nossas instituições, a ascensão de nosso progresso se faça sob a inspiração ativa e constante do pensamento católico, e dentro das normas da civilização cristã. Esta a tarefa para a qual vem tendendo os esforços da Igreja em todo o Brasil. Queremos de nossa parte exercê-la em Campos com uma intensidade e um esmero sempre maior, bem lembrados de uma verdade que acresce singularmente nossas responsabilidades. Todo país tem — do ponto de vista militar — seus postos-chave, cuja conquista determina automaticamente a sorte de uma guerra. O mesmo se pode dizer das lutas ideológicas. Por seu progresso, por sua cultura, por sua influência no cenário nacional, Campos é ideologicamente, um dos postos-chave do Brasil. Cumpre, pois, desfraldar e firmar aqui, em todos os domínios da vida pública e privada, o estandarte triunfante da Realeza de Cristo.

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É este o objetivo com que lançamos hoje "Catolicismo". Nossa folha visa contribuir para proporcionar à elite intelectual e às organizações religiosas católicas da cidade e de toda a Diocese, uma visão sintética dos principais acontecimentos nacionais e mundiais no campo religioso, filosófico, literário, político, social e artístico, completada sempre por uma apreciação feita do ponto de vista da doutrina católica. Por esta forma, contamos proporcionar à intelectualidade campista meio seguro e cômodo de analisar o desenvolvimento da grande tragédia contemporânea — à qual está ligada o Brasil como membro da comunidade das nações cristãs do Ocidente — do único ponto de vista que realmente interessa: na imensa confusão em que vivemos, estamos nos afastando de Jesus Cristo, ou estamos retornando a ele? Quais as ideologias, os partidos, os sistemas, os homens que aproximam o mundo de Jesus Cristo; quais os que dEle o afastam?

François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (1694-1778). Acima, retratado por Maurice Quentin de La Tour (1737–1740 aprox.)

"A opinião pública é a rainha do mundo", escrevia Voltaire. Em nossos dias, esta afirmativa se torna cada vez mais verdadeira. Formar a opinião tem sido o objetivo constante de todas as forças ocultas ou não, que vem tentando desde o século XVIII, ou quiçá, desde o século XVI a conquista do mundo.

Devemos lutar para evitar o monopólio da opinião por estas forças, instituindo uma imprensa genuinamente nossa, através da qual proclamamos os fatos e os princípios que tantas vezes são negados, ocultados, subestimados, nos ambientes formados pelo espírito laicista, liberal e naturalista e profundamente maçonizado de nossos dias.

Por certo, não faltam em nossa cidade mentalidades lúcidas e vigorosas, que por si mesmas possam analisar à luz dos princípios católicos o evoluir da crise contemporânea. Mas estas mentalidades, em Campos como por toda a parte, são minoria. E mesmo para elas seria insano o trabalho de informação e de análise que um tal estudo exigiria para ser completo.

"Catolicismo" visa incumbir-se deste trabalho. Acompanhando os fatos pela leitura direta dos jornais e revistas mais interessantes do Brasil e do Exterior, analisamo-los com o concurso de intelectuais católicos em evidência nos maiores centros do País, e pomos o fruto deste esforço ao serviço da intelectualidade campista.

Nada, porém, do que é de Campos fica circunscrito só a Campos. Desejamos registrar em nossas páginas os ecos da intelectualidade campista, e, pela difusão de nosso jornal em outros centros do País, assegurar a irradiação da alma católica campista em todo o Brasil.

Seria supérfluo dizer que objetivos tão elevados não são compatíveis com a competição dos interesses privados, das ambições pessoais, do espírito de clã que infelizmente ainda marca tão a fundo a vida política do Brasil. Assim jamais haverá lugar em nossas colunas para considerações direta ou indiretamente tendentes a nos levar a um terreno em que não podemos nem queremos ingressar.


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